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DOENÇA DE WEIL: UMA FORMA GRAVE DE LEPTOSPIROSE
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P522 - Resumo ID: 968
CENTRO HOSPITALAR DE LEIRIA
Carla Falcão, Rita Grácio, Pedro Neves Tavares, Catarina Duarte Santos, Diana Fernandes, Ana Ferrão, Alcina Ponte
INTRODUÇÃO: A leptospirose é uma zoonose adquirida através de abrasões ou corte da pele, mucosas ou conjuntivas expostos a água, alimentos ou solo contaminados por espiroquetas patogénicas do género Leptospira. A maioria dos casos manifestam-se por sintomatologia ligeira e autolimitada. Nos casos mais graves, pode apresentar-se de duas formas, a leptospirose anictérica e a leptospirose ictérica ou doença de Weil. Esta última afeta 5-10% dos casos de leptospirose e associa-se a evolução rapidamente progressiva e pior prognóstico. Carateriza-se pela presença de icterícia, disfunção renal e febre.
CASO CLÍNICO: Mulher, 83 anos, residente em domicílio, meio rural, antecedentes de dislipidemia, hipertensão arterial, hiperuricemia e doença diverticular, recorreu ao SU por astenia, mal-estar geral, anorexia, dor epigástrica, diarreia, oligúria e colúria com alguns dias de evolução. Na semana anterior, tinha recorrido ao SU por cefaleias e febre (T38ºC) e foi assumido síndrome gripal. Ao exame objetivo, apresentava-se normotensa, apirética, vigil, ictérica, sem alterações na auscultação cardiopulmonar, abdómen globoso, com dor difusa à palpação, com hematomas e edema dos membros inferiores. Analiticamente, linfócitos 300/µL, plaquetas 9000/µL, hemoglobina 16g/dL, ureia 41mmol/L, creatinina 4,51mg/dL, potássio 5,4mmol/L, albumina 26g/L, ALT 57U/L, AST 150U/L, LDH 318U/L, fosfatase alcalina 133U/L, bilirrubina total 87,9 µmol/L, conjugada 57,4 µmol/L, não conjugada 30,5µmol/L, proteína C reativa 175mg/L. Gasometria com acidose metabólica. Urina II com 500 leucócitos, proteínas 2+, glicose 1+, eritrócitos 3+, bilirrubina 1+. Urocultura não significativa. Pesquisa de leptospirúria negativa e reação Weil-Félix OXK 1/160. Ecografia renal, abdominal superior e pélvica sem alterações. Desenvolveu quadro de hipotensão com necessidade de fluidoterapia intensiva e transfusão de plaquetas, com recuperação tensional. Iniciou antibioterapia empírica com ceftriaxone e doxiciclina, presumindo-se sépsis em contexto de zoonose. Em D7 de internamento, obteve-se serologias seriadas de Leptospira IgM positivas. Observou-se melhoria dos parâmetros inflamatórios e da função renal após 7 dias de antibioterapia, contudo com agravamento da hiperbilirrubinemia (216 µmol/L), das transaminases (AST/ALT 292/202U/L), da fosfatase alcalina (586U/L), da LDH (569U/L) e da albumina (16g/L), tendo-se efetuado reposição de albumina. Observou-se melhoria clínica e analítica ao 20º dia de internamento.
DISCUSSÃO: Apesar da maior parte dos casos de leptospirose terem uma apresentação subclínica, em doentes mais idosos com comorbilidades, pode associar-se a um quadro mais grave com disfunção orgânica. Revendo a literatura, denotamos alguma controvérsia relativamente à eficácia da antibioterapia no tratamento de formas mais severas de leptospirose. Pela evolução lenta deste caso, podemos afirmar que a terapêutica de suporte teve um papel importante no tratamento e melhoria desta doente.