Márcia Cravo, Daniel Oliveira, Catarina Mendonça, Paulo Paiva, João Araújo Correia
Introdução: A hepatite C corresponde a um processo necroinflamatório do parênquima hepático induzido por um vírus RNA com sete genótipos distintos. A hepatite C aguda, é uma etiologia pouco frequente, presente em apenas 10% dos casos a nível europeu, mas possível nos primeiros seis meses após inoculação do vírus. A sua apresentação clínica é variável, sendo sintomática em apenas metade dos casos. As drogas endovenosas, o sexo desprotegido com múltiplos parceiros e a exposição ao vírus em procedimentos médicos são as principais formas de contaminação. Apesar de a maioria dos casos evoluir para cronicidade, a cura espontânea é um cenário possível na evolução da doença.
Caso Clínico: Apresentamos o caso de uma mulher de 62 anos, caucasiana, com história clínica de colecistectomia; hepatectomia parcial por quisto hepático benigno e gastrite crónica. Apresentou-se no serviço de urgência com dispepsia, náuseas, icterícia e colúria com uma semana de evolução. Analiticamente apresentava citólise (aspartato transaminase de 1991 U/L e alanina transaminase de 2952 U/L a 37º), colestase (fosfatase alcalina 203 U/L e gama-glutamiltransferase 315 U/L a 37ºC) e hiperbilirrubinemia à custa da bilirrubina direta (9,31 mg/dL e 7,81mg/dL, respetivamente). Ecograficamente sem alterações relevantes na morfologia hepática e sem ectasia das vias biliares. Estudo etiológico a revelar anti-HCV positivo e carga viral HCV elevada (70200000 UL/ml), sem outras alterações, compatível com provável hepatite C aguda. Durante o internamento, decidida atitude expectante, sem terapêutica médica dirigida. Evolução progressivamente favorável com resolução do quadro clínico. Reavaliação ao terceiro mês após admissão, sem sintomatologia e com normalização do perfil hepático e negativação da carga viral HCV, a validar o diagnóstico de hepatite C aguda com cura espontânea.
Conclusão: O diagnóstico da hepatite C aguda pode ser um desafio clínico determinado pela sua natureza clínica silenciosa e pela sua diminuta prevalência. Não obstante, o seu reconhecimento é de extrema relevância pelo risco elevado de transmissão deste vírus e pela sua frequente evolução para cronicidade, cujo tratamento dirigido tem impacto na morbimortalidade.