23

24

25

26
 
ALTERAÇÃO DO ESTADO DE CONSCIÊNCIA DE ETIOLOGIA TÓXICA
Urgência / Cuidados Intermédios e Doente Crítico - E-Poster
Congresso ID: P869 - Resumo ID: 986
Hospital do Espírito Santo de Évora
Sara Correia, Ana Bernardo, Vera Sarmento, Maria José Piteira, Mariana Soares, Margarida Massas, Ana Pedrosa, Leila Barrocas
Introdução: As alterações do estado de consciência são comuns na prática clínica. Representam uma emergência médica pela elevada mortalidade a que estão associadas, e por isso, exigem atuação rápida no sentido do diagnóstico e tratamento.

Caso clínico: Mulher de 80 anos de idade, autónoma, encontrada caída em casa com alteração do estado de consciência (Glasgow Coma Scale de 11). Antecedentes relevantes: síndrome depressivo major, medicada com benzodiazepinas. À entrada no Serviço de Urgência e acompanhada pela VMER, a doente apresentava-se incapaz de fornecer história, e já sob oxigenoterapia com máscara de alto débito. Iniciou-se um exaustivo estudo etiológico, do qual se destaca: gasimetria arterial com Carboxigemoglobina de 4,6; avaliação analítica com troponina I de 3,5; pesquisa de drogas de abuso na urina positiva para benzodiazepinas; Tomografia Axial Computorizada crânio-encefálica (TC-CE) com evidência de lesões cerebrais dos globos pálidos e hipocampo à esquerda; ecocardiograma a revelar boa função sistólica global. Foi administrada uma fórmula de flumazenilo que não surtiu efeito na recuperação do estado de consciência, pelo que a hipótese de intoxicação por benzodiazepinas foi descartada.
Após interpretação dos exames complementares de diagnóstico realizados e esclarecida a história, admitiu-se intoxicação por monóxido de carbono – a doente teria tido uma braseira ligada no sítio onde foi encontrada caída, e teria também verbalizado previamente, ideação suicida.
Neste seguimento a doente foi transferida para o Hospital das Forças Armadas onde cumpriu tratamento em câmara hiperbárica (2,5 atmosferas durante 90 minutos). Regressou ao Hospital do Espírito Santo de Évora onde foi internada, e por manter alteração do estado de consciência, repetiu TC-CE e realizou ressonância magnética cerebral, que continuaram a identificar as mesmas lesões descritas inicialmente – “restrição na difusão nos hipocampos com expressão bilateral e a nível dos globos pálidos bilateralmente, sendo este envolvimento dos globos pálidos bastante sugestiva de encefalopatia por monóxido de carbono.”

Discussão: A afetação dos globos pálidos é descrita na literatura como a lesão típica por excelência na intoxicação por monóxido de carbono. Este achado imagiológico associado a uma alteração do estado de consciência com lesão de órgão-alvo múltipla (cardíaca e cerebral), num contexto sugestivo, confirmaram a hipótese diagnóstica colocada, e sustentaram a terapêutica instituída. Ao valor da carboxihemoglobina não se atribuiu especial ênfase por já estar condicionado pela oxigenoterapia instituída precocemente.
Durante o tempo que permaneceu internada, a doente manteve o seu estado neurológico sobreponível às distintas observações, sem melhoria, inferindo-se desta forma que provavelmente o tempo de exposição ao tóxico seja o fator determinante para a recuperação do estado de consciência ou para a permanência de sequelas por este tipo de intoxicação.