23

24

25

26
 
PAPEL DA BIÓPSIA DE GLÂNDULAS SALIVARES ACESSÓRIAS NO DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME DE SJÖGREN E DE OUTRAS DOENÇAS SISTÉMICAS
Doenças autoimunes, reumatológicas e vasculites - Comunicação
Congresso ID: CO001 - Resumo ID: 998
1.Serviço de Medicina Interna, Hospital Pedro Hispano, 2.Serviço de Anatomia-Patológica, Hospital Pedro Hispano
Ana Isabel Lopes 1, Raquel Machado-Neves 2, Mrinalini Honavar 2, P. Ricardo Pereira 1
Introdução: A biópsia das glândulas salivares acessórias (BGSA) é um procedimento diagnóstico minimamente invasivo. É sobretudo usada para o diagnóstico de Síndrome de Sjogrën (SS), permitindo objetivar a presença de sialoadenite linfocítica, um critério da classificação diagnóstica de SS do American–European Consensus Group (AECG). No entanto, o valor da BSGA também tem sido reportado noutras doenças inflamatórias/infiltrativas.

Objetivos: Analisar as caraterísticas dos doentes e o motivo para a realização da BGSA. Primariamente, pretendeu-se estudar a utilidade da BGSA para o diagnóstico da SS, relacionando os achados da biópsia com manifestações clínicas e com outros exames complementares. Secundariamente, pretendeu-se avaliar o papel da BGSA no diagnóstico de outras doenças inflamatórias/infiltrativas.

Material e métodos: Foi efetuada uma análise retrospetiva dos doentes submetidos a BGSA entre Abril de 2014 e Dezembro de 2017, com base na revisão dos processos clínicos.

Resultados: Identificados 173 doentes. Do total, 129 (75%) realizaram BGSA por suspeita de SS, 44 (25%) por suspeita de amiloidose, sendo que em 3 (2%) doentes havia suspeita de ambos, e 3 (2%) por suspeita de sarcoidose.
Dos doentes com suspeita de SS, 86% eram mulheres com idade média de 57 anos. Em 40% dos casos havia evidência de sialadenite linfocítica grau>2 da escala de Chisholm-Mason. Em 45% dos doentes havia registo do teste de Schirmer (TS) e 27% tinham realizado cintigrafia das glândulas salivares (CGS). O anti-SSA, os ANA e o FR correlacionaram-se significativamente com a presença de sialoadenite linfocítica na BGSA. Pelo contrário, a xerostomia, a xeroftalmia, o anti-SSB, o TS e a CGS não se correlacionavam. Quarenta e três (33%) não cumpriam critérios de classificação de SS do AECG, mas apresentam diagnóstico clínico de SS (30 primário; 13 secundário). Nove (7%) cumpriam os critérios de classificação antes da realização da BGSA. Após a BGSA esse número subiu para 25 (19%).
Dos doentes com suspeita de amiloidose, 64% eram homens com idade média de 70 anos. Em 43% dos casos para estudo de cardiopatia e em 25% por proteinúria nefrótica. A biópsia foi positiva em 4 doentes, e dois deles tinham biópsias de outros órgãos também positivas. O diagnóstico foi confirmado em 4 doentes, sendo que um deles apresentava BGSA negativa para amiloide.
Em nenhum caso de suspeita de sarcoidose houve histologia compatível, sendo que o diagnóstico foi confirmado num doente.

Conclusão: A BGSA foi usada no diagnóstico de SS e de amiloidose. A BGSA permitiu aumentar o número de doentes que cumpriam os critérios de classificação da SS, ainda que muitos doentes não tivessem realizado TS ou CGS. No entanto, a ausência de correlação verificada entre estes apoia a utilização da BGSA de modo a aumentar a possibilidade de completar os critérios diagnósticos. A BGSA parece ter também utilidade no diagnóstico da amiloidose. A BGSA é um procedimento simples com utilidade diagnóstica.