Filipa Cardoso, Rita Valente, Teresa Souto Moura, Margarida Sá Pereira, Paula Fonseca
Introdução: O internamento em Medicina Interna engloba uma população considerável de doentes com patologia crónica e múltiplas comorbilidades. Insulto agudo e/ou história natural da doença, insuficiências de suporte público e institucional no âmbito paliativo, determinam, não raramente, hospitalização a cargo desta especialidade para implementação das necessárias medidas de conforto, com previsível e não desprezável repercussão na taxa de mortalidade.
Objectivo: Caracterizar um ano de óbitos expectáveis ocorridos numa enfermaria de Medicina Interna.a.
Material e métodos: Análise retrospectiva via consulta de processo clínico informatizado. Recolha de dados demográficos e clínicos. Análise estatística através de Microsoft Excel.
Resultados: Dos 1056 internamentos efetcuados no ano 2018, 100 resultaram em morte - taxa de mortalidade 9,46%. A idade média dos falecidos foi de 82,69 anos, com ligeiro predomínio do género feminino (57%)
Destas cem hospitalizações, 33% teve como objectivo acções paliativas: 29% medidas de conforto em fase agónica/final de vida, previsivelmente em horas ou dias; 4% controlo sintomático de doentes com sobrevida esperada de semanas ou meses. Caracterização do grupo: idade média 79,9 anos (min 54; máx 101); demora média 6,4 dias (min 0; máx 31); internamento/s nos 12 meses precedentes (n=16); dependência total (n=6, dos quais 2 sem vida de relação), parcial (n=14) e independente (n=13). Motivos de internamento: patologia oncológica terminal (n=17), acidente vascular cerebral (AVC, n=7), insuficiência cardíaca (n=3), infecção grave (n=3), outros (n=3). 5 doentes oncológicos terminais eram previamente seguidos por Cuidados Paliativos.
Relativamente às 67 altas ´celestiais´ remanescentes: idade média 84.1 anos (min 52; max 98), demora média 14,9 dias (min 0; máx 84), 22 parcialmente dependentes, 52 totalmente dependentes (10 sem vida de relação). Os motivos de internamento prevalecentes foram: infecção respiratória (n=28), AVC (n=6), suspeita de neoplasia oculta (n=5), infecção urinária (n=5), insuficiência cardíaca (n=5). De salientar a comorbilidade oncológica neste grupo: n=14, 10 em estádio terminal, 4 acompanhados em Cuidados Paliativos.
Conclusão: A amostra apresenta um significativo número de doentes admitidos para conforto em final de vida dos quais muito poucos com ligação prévia ao Cuidados paliativos. Questionamos assim se uma enfermaria de agudos constitui o melhor local para estas situações? Por outo lado, os cuidados paliativos englobam também o acompanhamento de doenças progressivas em fase avançada - não necessariamente oncológicas ou terminais ,- vertente por vezes subestimada ou tardiamente adoptada. O reforço de estruturas, concretamente, unidades especializadas, consultas, equipas hospitalares e comunitárias configura-se, deste modo, imperativa., Enfatizamos ainda que o parâmetro “mortalidade “ requer uma análise mais fina, muito para além do estritamente numérico e do meramente percentual.