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DOENÇA CELÍACA SILENCIOSA: UMA CAUSA DE INSUCESSO OBSTÉTRICO
Doenças digestivas e pancreáticas - Poster com Apresentação
Congresso ID: PO089 - Resumo ID: 1011
Centro Hospitalar de Lisboa Central, Maternidade Dr. Alfredo da Costa, Departamento de Medicina Obstétrica
Ana L. Santos, Nádia Charepe, Ana Massa, Augusta Borges, maria José Alves
Introdução: A doença celíaca (DC) é uma doença inflamatória crónica do intestino delgado, de etiologia autoimune, causada por uma sensibilidade permanente ao glúten em indivíduos geneticamente suscetíveis. Embora alguns doentes apresentem sintomatologia gastrointestinal como consequência do défice de absorção de nutrientes, na maior parte dos casos os sintomas gastrointestinais são apenas muito ligeiros ou ausentes. O insucesso obstétrico é, muitas vezes, uma das apresentações atípicas da doença embora seja frequentemente negligenciado na prática clínica.
Caso clínico: Mulher de 31 anos, leucodérmica, com história de infertilidade primária (4 anos de evolução) de causa não esclarecida após realização de estudo complementar dirigido. Recorrência a procriação medicamente assistida, nomeadamente com três microinjeções intracitoplasmáticas de espermatozoides (ICSI), das quais resultaram perdas embrionárias. Como tal, foi realizado estudo etiológico nas várias vertentes (anatómico, imunológico, infecioso e trombofílico), destacando-se estudo ginecológico sem alterações, hemograma sem alterações, função tiroideia normal e anticorpos anti-tiroideus negativos; estudo de autoimunidade negativo (estudado, nesta fase, apenas ANA e sistema ENA); estudo de trombofilias hereditárias (fator V de Leiden, gene da protrombina, défice de proteína C e S, antitrombina e homocisteína) e adquiridas (anticorpo anti-cardiolipina IgM e IgG, anticoagulante lúpico e anticorpo anti-beta2 gliicoproteína1 IgM e IgG) negativo. Foi pedida avaliação por medicina Interna que constatou, da história clínica, episódios de diarreia com 12 anos de evolução e não progressão ponderal (IMC 17,5). Nesse sentido, foi pedido o estudo para rastreio de DC: anticorpos anti-transglutaminase IgA positivo (60,5UQ) e IgG negativo (8,80UQ), anticorpos anti-gliadina IgA e IgG positivos (30,5UQ e 46UQ) e anticorpo anti-endomísio IgA duvidoso. Iniciada dieta sem glúten e agendada endoscopia digestiva alta para realização de biopsias duodenais (confirmação histológica) que não foi realizada por gravidez espontânea. Atualmente gravidez evolutiva sem complicações maternas ou fetais, sob profilaxia com enoxaparina 40mg/dia e ácido acetilsalicílico 150mg/dia, de acordo com o protocolo de aborto recorrente.
Discussão: Este caso salienta a importância da colheita de uma história clínica completa na qual se deve incluir a história obstétrica da mulher, muitas vezes esquecida no decorrer das consultas de Medicina Interna. A infertilidade pode ter, na sua génese, uma causa sistémica constituindo-se como a única manifestação de uma patologia até então desconhecida. Conclui-se que, perante este diagnóstico em mulheres em idade reprodutiva, a restrição do glúten da dieta pode resolver a infertilidade e as perdas fetais recorrentes além de melhorar a qualidade de vida por melhoria de sintomatologia gastrointestinal.