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CAUSA RARA DE INFEÇÃO NUM JOVEM. QUANDO NEM TUDO O QUE PARECE É.
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P514 - Resumo ID: 1012
Hospital Beatriz Ângelo
Salomão Fernandes, Isabel Montenegro Araújo, David Prescott, Ana Isabel Brochado, Margarida Pimentel Nunes, Inês Branco Carvalho, Beatriz Donato, Rita Sérvio, José Luis Ferraro, Adriana Paixão Fernandes, Raquel Almeida, António Martins Baptista, José Lomelino Araújo
Introdução:
A Medicina Interna é das especialidades hospitalares onde a integração de conhecimentos e o raciocínio clínico se mostram mais importantes no processo diagnóstico. O caso apresentado ilustra uma apresentação rara de doença que se mostrou um desafio (e surpreendeu) a equipa Médica.

Caso Clínico:
Sexo masculino, 23 anos, natural e residente em Portugal, autónomo, estudante. Sem antecedentes pessoais de relevo, sem viagens recentes, sem contacto com animais. Recorreu ao Serviço de Urgência por dor no hemitórax direito, com cerca de 1 mês de evolução. Apresentava há 1 semana calafrios de predomínio vespertino e vómitos alimentares com agravamento diário. Ao exame objetivo destacava-se frequência cardíaca com 118 bpm, temperatura auricular de 37.8ºC e abdómen doloroso à palpação no hipocôndrio direito. Sem alterações ao exame físico torácico. Analiticamente destacava-se Hb 12 g/dL, Leucócitos 23780 /uL e PCR 25.07mg/dL. Ionograma, função renal e enzimas hepáticas sem alterações. Rx de tórax com elevação da hemicúpula diafragmática direita e discreto derrame pleural direito. Perante incerteza quanto ao diagnóstico realizou ecografia abdominal que revelou fígado heterogéneo, com cinco lesões com 5, 5.5, 4, 3.2 e 3.5 cm compatíveis com abcessos e duas coleções perihepáticas heterogéneas também sugestivas de abcessos com 3.7 e 3.6 cm. Realizou TC que corroborou os resultados. Dos estudos culturais realizados destacam-se hemoculturas negativas e serologia para Entamoeba histolytica e Echinococcus granulosus negativas. Ao 3º dia de internamento realiza drenagem percutânea, que em estudo cultural do material colhido revelou isolamento de Staphylococcus aureus multissensível. Realizou ecocardiograma que se revelou sem alterações. Alterou-se antibioterapia empírica iniciada (cetriaxone + metronidazole) para flucloxacilina que cumpriu durante 6 semanas. Durante este período com estudos analíticos e imagiológicos consecutivos, com regressão das lesões. Após revisão da história clínica com o utente concluiu-se que a infeção teve provável ponto de partida cutâneo em pústula facial que o utente tinha apresentado cerca de 2 meses antes de recorre ao Hospital.

Discussão:
O Staphylococcus aureus, bem como o Streptococcus pyogenes e outros coccus Gram + são agentes reconhecidos de abcessos hepáticos, apresentando-se contudo em situações específicas, tais como utentes submetidos a intervenções cirúrgicas ou pós embolização trans- arterial. O isolamento de S. aureus em abcesso hepático num jovem sem fatores de risco ou história prévia de infeções cutâneas é sem dúvida uma apresentação raríssima de doença, com muito poucos casos descritos na literatura. O caso apresentado representa um exemplo de como uma correta plasticidade na abordarem clínica, levou ao rápido diagnóstico e terapêutica do utente, mostrando a importância da avaliação clínica e da integração de conhecimentos na gestão dos pacientes observados nas enfermarias de Medicina Interna.