Pedro Manata, Carla Ferreira, Ana Grais, Inês Ferreira, Maria João Pinto, Raquel Almeida, João Matos Costa
INTRODUÇÃO: As infeções por Enterobacteriáceas resistentes aos carbapenemos (ERC) são uma preocupação de saúde mundial, especialmente nos doentes frágeis, imunodeprimidos, com internamentos prolongados e impacto na mortalidade. Na origem destas resistências está a exposição prévia a antibióticos, em particular de carbapenemos, devido à disseminação de Enterobacteriáceas produtoras de betalactamases (ESBL). Dada a condição crítica desses pacientes, o tratamento deve ser oportuno, agressivo e eficiente. A colistina é tratamento de última linha nas infeções por Klebsiella pneumoniae resistente a carbapenemos (KPC), porém a sua utilização crescente tem levado ao aparecimento de resistências.OBJETIVO: Caracterização dos casos de ERC, em particular por KPC, em todo o hospital no ano de 2018. Identificar e analisar os fatores de risco associados a mau prognóstico nas infeções por ERC. Determinar a mortalidade associada a estas infeções. MATERIAIS E MÉTODOS: Estudo prospetivo de Janeiro a Dezembro de 2018. Foram incluídos consecutivamente todos os casos detetados com isolamento de ERC (infeção ou colonização). Os dados clínicos dos pacientes foram recolhidos dos registos médicos via SClínico e trabalhados em Microsoft Excel 365. Foram analisados os seguintes parâmetros: 1) Demográficos, 2) Comorbilidades, 3) Procedimentos invasivos, 4) Infeções concomitantes 4) Localização anatómica dos isolados, 5) Resistências a antibióticos, 6) Exposição prévia a antibióticos e antifúngicos. RESULTADOS: Durante o ano de 2018 foram identificados 40 doentes com cultura positiva para ERC, sendo que em 32 foi isolada a estirpe Klebsiella pneumonia e em 8 Klebsiella ozaenae. Das 40 ERC, só 6 é que foram identificadas como KPC, sem informação quanto ao tipo de carbapenemase nas restantes. Foram documentados clinicamente 30 casos de infecção por ERC e 10 colonizações. As estirpes isoladas foram detetadas na urina (n=12), trato respiratório (n= 10), sangue (n=8), exsudado rectal (n=10) em contexto de rastreio, pele (n=1) e ponta de cateter (n=1). A taxa de mortalidade foi de 55%. Nos doentes com infeção documentada, 22 fizeram antibioterapia dirigida com colistina (n=19), ciprofloxacina (n=2), amicacina (n=1) e nos restantes terapêutica empírica. Em média o tratamento com colistina foi de 11 dias. Dos 40 pacientes com ERC identificada, 87% tinham mais de 60 anos, sem predomínio de género (F:M = 20:19), com proveniência de casa (n=16) ou Lar (n=14). De entre as comorbilidades estudadas destaca-se a Diabetes (n=15) e a doença renal crónica (DRC) (n=15). A média de internamento foi de 38 dias. CONCLUSÕES: A elevada mortalidade está de acordo com a literatura, bem como os fatores de risco; destacando-se a idade e as comorbilidades como a Diabetes e a DRC. A exposição prévia a antibióticos deve ser valorizada em contexto de internamentos longos com infeções concomitantes. Apesar do tratamento dirigido com colistina na maioria dos doentes, o resultado clínico foi desfavorável.