Miguel Romano, Francisco Teixeira da Silva, Francisca Silva Cardoso, João Pedro Pais, Ana Sofia Matos, Fernando Correia, Rita Sarabando, Sara Passos Silva, Manuel Ferreira, Diana Guerra
INTRODUÇÃO: Num serviço de urgência, dos mais comuns aos mais rebuscados, passa pelos internistas uma grande variedade de diagnósticos. A tromboflebite pélvica séptica é uma entidade de apresentação clínica grave, mas de fácil diagnóstico e tratamento. CASO CLINICO: Doente de 29 anos, com antecedentes uma gestação, submetida a cesariana a 23/11/2018 (sem intercorrências descritas) e anemia pós-parto (sob ferro oral); sem outros antecedentes de relevo. Recorre ao serviço de urgência(SU) de Ginecologia/Obstetrícia (Gin/Obs) a 2/12 por febre associada a episódios de arrepios. Não foram encontradas alterações de relevo ao exame físico, nem no estudo analítico e ecográfico realizado a exceção de anemia previamente conhecida, tendo alta com indicação para manter vigilância. Regressa ao SU a 10/12, novamente para observação por Gin/Obs por febre intermitente (máximo de 38º), com cerca de 1 semana de evolução. Apresentava sensação calor mamário e hipersensibilidade mamilar motivo pelo qual não amamentava há 5 dias. À admissão com temperatura corporal de 37,8º sem outras alterações. Do estudo complementar realizado destacava-se aumento dos parâmetros inflamatórios, trombocitose (502*10^9/L), anemia microcítica (hemoglobina 9,0 g/dL). Por não apresentar aparente causa ginecológica ou obstétrica para o quadro, a doente é transferida para avaliação por Medicina Interna. O exame objetivo revela-se sem alterações de relevo à exceção de taquicardia ligeira. Por suspeita de complicação associada a cesariana recente, optou-se pela realização de TC abdomino-pélvica que confirmou o diagnóstico de tromboflebite pélvica séptica, descrevendo uma “(...) trombose extensa e completa da veia ovárica direita (...) com cerca de 10 mm de diâmetro transversal e tem uma extensão longitudinal aproximada de 10 cm (...)”. A doente foi posteriormente admitida no serviço de Gin/Obs, cumprindo hipocoagulação com enoxaparina 80 mg 12/12h e antibioterapia dupla (ampicilina + gentamicina) com melhoria clínica do quadro, tendo tido alta a 16/12 com indicação para manter hipocoagulação durante 6 semanas. DISCUSSÃO: Em mulheres no período de puerpério, sobretudo pós-cesarianas e com história de infeção peri/pós-parto, a tromboflebite pélvica séptica deve ser tida em conta. Entidade rara, com prevalência de cerca de 1 para 3000 partos, pelo que exige um elevado grau de suspeição principalmente em casos atípicos. Este caso clinico vem alertar para a importância de o internista ser capaz de integrar diferentes dados e conceitos e elaborar uma lista de possíveis diagnósticos abrangente mas concisa, fazendo com que se torne possível a atuação e tratamento rápidos. Patologias como esta, muito raras no âmbito da Medicina Interna, não devem ser postas de parte, uma vez que o seu diagnóstico precoce é fundamental para uma evolução favorável.