Helena Greenfield, Ana Ferro, Carlos Ochoa Leite, Sílvia Correia, Miguel Baptista, Filipe Correia, Cristina Rodrigues
Apresenta-se o caso de um homem de 76 anos, sem antecedentes médicos de relevo, que recorreu ao Serviço de Urgência por quadro com 2 meses de evolução de cefaleia frontal bilateral, com despertares noturnos frequentes, associado a diplopia. Referia também quadro de astenia, perda ponderal de 4% em 2 meses e perda progressiva da autonomia. Efetuada tomografia computorizada (TC) cerebral com múltiplas lesões ocupantes de espaço captantes no IV ventrículo, ventrículo lateral direito e intraparenquimatosas. Estes achados foram confirmados na ressonância cerebral, onde se verificava edema vasogénico circundante, sugerindo origem metastática, bem como aumento marcado das dimensões do plexo coroideu, com intensa captação de contraste, colocando a hipótese de carcinomatose meníngea. Foi iniciada corticoterapia e o doente foi internado para estudo. Foi realizada TC toraco-abdomino-pélvica que mostrou massa de 3,5 cm no lobo superior esquerdo, traduzindo provável tumor primário do pulmão, vários nódulos pulmonares bilaterais e imagem lítica no acetábulo direito, sugestivos de metastização. Foi efetuada punção lombar que apresentava proteinorráquia, 4 células/µL, sem consumo de glicose, e cuja citologia apresentava células malignas compatíveis com metástases de carcinoma, com elevada suspeição de origem pulmonar. Foi ainda realizada biópsia transtorácica do nódulo pulmonar que foi inconclusiva.
Durante o internamento, o doente apresentou evolução clínica desfavorável, tendo falecido quatro semanas após a vinda ao SU. Assim, foi assumida carcinomatose meníngea em doente com provável neoplasia primária do pulmão.
A ocorrência de carcinomatose meníngea é uma complicação tardia, rara, ocorrendo em até 10% de doentes com tumores sólidos metastáticos. Caracteriza-se pela disseminação multifocal de células carcinomatosas malignas pelas leptomeninges, tipicamente ocorrendo em fases avançadas da doença. Entre as neoplasias com maior risco, destaca-se a mama, o pulmão e o melanoma. O prognóstico desta condição é muito reservado.