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´UM CAFÉ ANTES DA PL, POR FAVOR´ - UM CASO DE CEFALEIA POR ABSTINÊNCIA DE CAFEÍNA
Doenças cérebro-vasculares e neurológicas - E-Poster
Congresso ID: P656 - Resumo ID: 1034
Hospital de Cascais
Filipa Taborda, Isa Silva, Madalena Sousa e Silva, Magda Faria
A síndrome de abstinência de cafeína é uma entidade clínica estabelecida, descrita na literatura e incluída na 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM-5). A sua incidência é desconhecida embora se julgue elevada face o consumo disseminado de café. Caracteriza-se pelo aparecimento de sintomas como cefaleia, fadiga, inatenção, irritabilidade e tonturas após cessação abrupta do consumo de cafeína num utilizador regular. A frequência de aparecimento e severidade dos sintomas aumenta com a dose diária, habitualmente superior a 400mg de cafeína por dia (equivalente a 3 cafés), embora possa ocorrer com doses mais baixas. A instalação dos sintomas ocorre 12-24horas após a interrupção do consumo, com um pico das 20 às 51horas, podendo durar até duas semanas. Com a readministração de cafeína verifica-se uma rápida melhoria dos sintomas. Os autores relatam o caso de uma doente do sexo feminino de 85 anos, internada no Serviço de Medicina por colite de etiologia a esclarecer cujo quadro clínico foi predominado por diarreia abundante, sem sangue ou muco, com dois dias de evolução com espessamento parietal do colón da tomografia computorizada (TC) da admissão. Ao 3º dia de internamento, ainda a progredir na dieta para avaliação de tolerância, refere aparecimento de cefaleia bifrontal, do tipo moinha, mas com guinadas ocasionais, muito intensa, sempre presente, sem sono ou fotofobia associados. Referia mal-estar geral inespecífico e inapetência. Não apresentava alterações ao exame neurológico sumário, mantendo-se sempre vígil e orientada. Medicada com analgesia simples à qual foi refractária, obtendo apenas alívio parcial com tramadol em esquema. Pedida TC cranioencefálico que excluiu eventos hemorrágicos agudos e/ou outras alterações parenquimatosas que justificassem as queixas. Por volta do 6º dia, por pico febril, ainda que potencialmente explicado por foco infeccioso vs. inflamatório gastrointestinal, atendendo às queixas de cefaleia persistente, foi decidida realização de punção lombar para exclusão de envolvimento de SNC. O exame citoquímico e bacteriológico do líquor não viriam a revelar alterações, mantendo-se vigilância clínica. Só após toda a marcha diagnóstica e “prova terapêutica” feita involuntariamente pela filha, viria a revelar-se o diagnóstico de cefaleia no contexto de abstinência de cafeína, com total resolução sintomática após a toma de café. Apurou-se que a doente bebia habitualmente 3 a 4 cafés por dia, já desde há vários anos e que, pelas restrições diatéticas impostas pelo seu quadro gastrointestinal, estaria desde o primeiro dia de internamento sem ingestão de cafeína. Com este caso os autores pretendem sensibilizar para a síndrome de abstinência de cafeína como um diagnóstico diferencial a considerar num doente com cefaleia, com história de consumo regular de cafeína, obviando a realização de exames complementares de diagnóstico potencialmente invasivos, não isentos de riscos e complicações.