Carina Ramalho, Mariana Almeida, Silvia Rodrigues, Fátima Campante
Introdução: O envolvimento neuropsiquiátrico é uma das principais causas de mortalidade e morbilidade nos doentes com LES. O diagnóstico é de exclusão, sendo critico para o prognóstico do doente. As manifestações neurológicas mais comuns são a cefaleia, doença cerebrovascular, epilepsia e alterações cognitivas. A RM-CE pode apresentar
áreas de isquémia cortical e subcortical e múltiplos hipersinais em T2 principalmente na junção da matéria branca com a cinzenta. Estes achados são inespecíficos e podem ser encontrados na Esclerose múltipla e outras vasculites, sendo a biópsia cerebral o melhor método para o diagnóstico diferencial.
Caso clinico: Mulher de 73 anos, com antecedentes LES predominantemente hematológico há vários anos sob Lepicortinol e internamento recente no serviço de medicina por pancitopénia, em contexto de flaire da sua doença de base, destacando-se como intercorrência uma celulite do membro inferior direito, tratada com antibioterapia. Duas semanas depois da alta, inicia queixas de dor na região inguinal direita, de ritmo misto e agravamento progressivo. Realizou RM-art. coxofemoral direita em contexto de hospital de dia, sendo esta compatível com artrite séptica. Foi internada e iniciou Cefepime e Vancomicina, sendo diminuída a terapêutica imunossupressora de base. Ao sétimo dia de terapêutica, inicia alteração súbita do estado de consciência, com alteração da linguagem e diminuição da força muscular nos membros inferiores. Colocaram-se as hipóteses diagnósticas de AVC Vs sépsis Vs Neurolúpus. Realizou TC-CE que não revelou alterações e análises sem aumento dos parâmetros inflamatórios. Foi escalada a terapêutica antibiótica para Ertapenem e iniciado novo ciclo de três dias de Metilprednisolona. Ao fim do segundo dia, existiu reversão total das alterações neurológicas. Foi pedida uma RM-CE (realizada após corticoterapia e sem
administração de contraste por disfunção renal) onde se verificaram áreas de desmielinização na substância branca, sobretudo periventricular e áreas de hiperintensidade em T2 na substancia branca subcortical e fronto-insular, sugestivas de encefalopatia microangiopática. Não foi realizada biópsia uma vez que a doente apresentava trombocitopénia grave. A doente cumpriu cerca de 5 semanas de terapêutica antibiótica e teve alta melhorada.
Discussão: Na doente apresentada existiu um quadro compatível com alterações do sistema nervoso central, em que, após excluídas a causa isquémica e o agravamento do quadro infecioso, parece ter estado relacionada com manifestações neurológicas da sua doença auto-imune de base. O caracter agudo do quadro, a resposta à corticoterapia e os achados na RM, apesar de não serem específicos e, na impossibilidade de realizar bióspia, apoiam esta hipótese de diagnostico.