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UM TEP QUE VIROU TIP (TEMPESTADE DE IATROGENIAS PERIGOSAS)
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P181 - Resumo ID: 1041
Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central
Filipa Cardoso, Rui Caetano Garcês, Estefânia Turpim, Teresa Souto Moura, Paula Fonseca
Introdução: Se há realidade temida por qualquer médico é“a iatrogenia”.Formamo-nos com o objetivo de melhorar o estado dos doentes e não de lhes provocar dano maior. Contudo, sabemos que praticamente nenhum ato médico é isento de complicações, restando-nos o esforço de as tentar minimizar e de, quando surgem, analisar, reflectir e aprender. Os autores apresentam uma sucessão de complicações no decorrer do tratamento de romboembolismo pulmonar (TEP) maciço.
Caso clínico: Mulher, 80 anos; antecedentes: hipertensão arterial, cardiopatia hipertensiva e síndroma vertiginoso; medicação: olmesartan, furosemida, espironolactona, propranolol, betahistina.
Admitida por TEP bilateral extenso. Na urgência apresentava polipneia, cianose, hipoxemia (pO2 59mmHg ar ambiente), ECG:fibrilhação auricular, com resposta rápida, ecocardiograma com boa função do ventrículo direito, embora dilatado e com abaulamento do septo interventricular. Não apresentava hipotensão pelo que não fez terapêutica de reperfusão, iniciando enoxaparina 1mg/Kg 2id. Após uma primeira semana de boa evolução clinica, constata-se choque hemorrágico, sendo transferida para Unidade de Cuidados Intensivos, tendo efectuado terapêutica transfusional (4UCE + 6PFC) suporte aminérgico e ventilação invasiva.Imagiologicamente com volumoso hematoma da bainha dos rectos, que se estendia posteriomente à pélvis, condicionando desvio da bexiga para a direita. Angiografia com hemorragia ponto de partida na artéria epigástrica inferior esquerda que foi embolizada com sucesso.
Recuperada a estabilidade, é readmitida na enfermaria onde retoma a anticoagulação, agora com Varfarina, apresentando INR´s em margem terapêutica. Diagnosticada cistite a Enterobacter cloacae, iniciando cefuroxima. Nos dias seguintes quadro súbito de citocolestase hepática que melhora com a mudança de antibiotico. Por desenvolver hematúria franca, repete a TAC abdominal que mostra o hematoma pélvico praticamente colapsando a bexiga, com o balão de algália semi-exteriorizado. É decidida intervenção cirúrgica na qual é identificada rotura vesical extra peritoneal com necessidade de cistorrafia.
Discussão: O choque hemorrágico com ponto de partida na artéria epigástrica inferior foi provavelmente consequência de punção acidental deste vaso aquando da administração da enoxaparina, exponenciado pela própria anticoagulação. Esta iatrogenia foi responsável pela formação do hematoma pélvico que, comprimindo a bexiga, potenciou a sua rotura no momento da algaliação. Por último, a cistite nosocomial – em si mesma uma complicação do internamento – levou à administração de um antibiótico causador de hepatotoxicidade.
A sucessão de iatrogenias num curto espaço de tempo e algumas delas de gravidade considerável, faz-nos estar mais atentos e conscientes dos potenciais riscos de tratamentos e procedimentos, aparentemente tão simples e quotidianos na nossa especialidade, como a administração de HBPM, algaliação ou prescrição de uma cefalosporina.