Madalena Sousa Silva, António Carneiro, Isa Silva, Luís Pereira, Carolina Sequeira, Paula Antunes, Sofia Rodrigues, Ana Boquinhas
O aquecimento global e alterações climatéricas subjacentes constituem um problema actual que afecta a população de diversas formas, entre as quais a saúde. O mês de agosto de 2018 foi o segundo mais quente depois de 2003. Foram registadas temperaturas extremas por todo o país, sendo os dias de 1 a 6 os mais quentes. O golpe de calor é uma entidade com elevada morbimortalidade, caracterizada por elevação da temperatura corporal >40º com disfunção neurológica e possível disfunção de outros órgãos.
Objectivo: Caracterização dos doentes admitidos por golpe de calor no Serviço de Urgência (SU) de um Hospital Distrital em agosto de 2018
Material e Métodos: foram analisados os processos clínicos dos doentes que, durante o período de 1 a 6 de agosto foram enviados ao SU por temperatura corporal superior a 40ºC, através da consulta de processos clínicos e subsequente análise descritiva.
Resultados: Foram incluídos 8 doentes com estas características, todos admitidos entre 4 e 6 de agosto, com uma idade média de 81.6 (± 6.5) anos, predominantemente do sexo feminino - 62.5% (n=5). Relativamente ao estado funcional, recorrendo à escala de Karnofsky, apenas 37.5% (n=3) destes doentes eram autónomos, sendo os restantes total ou parcialmente dependentes nas actividades de vida diária. Dos factores de risco para golpe de calor destaca-se o uso de fármacos em 50% dos casos; quadro infeccioso em 12.5% e desidratação em 12.5% dos doentes. A temperatura corporal máxima à admissão foi de 41.5ºC com uma média de 40ºC (± 0.9ºC). À admissão 90% (n=7) dos doentes evidenciavam disfunção neurológica e 80% (n=6) disfunção renal. A creatinina média à admissao foi de 1.6mg/dL, com 75% dos doentes com lesão renal aguda, 75% dos doentes com rabdomiólise, 62.5% com citólise hepática. Gasimetricamente destacou-se hiperlactacidémia na maioria dos doentes (62.5%). Todos estes doentes foram internados, com uma média de dias de internamento de 12.4 dias, com um mínimo de 1 dia no caso de um doente que faleceu e um máximo de 55 dias no caso de uma doente cuja disfunção neurológica foi prolongada em contexto de estado de mal epiléptico. No decorrer do internamento houve 3 doentes a realizar Electroencefalograma, com evidência de alterações semelhantes - actividade epileptiforme nas regiões temporais. Dos 8 doentes 1 faleceu (12.5%) por disfunção multiorgânica e 3 (37.5%) ficaram com sequelas neurológicas (epilepsia).
Conclusão: A mortalidade foi inferior à descrita em outros estudos, que associamos a uma adequada abordagem pré e intrahospitalar, assim como provavelmente uma rápida percepção da gravidade do quadro por familiares/acompanhantes o que reduziu o tempo de ativação de apoio médico. É um assunto sobre o qual somos obrigados a reflectir e que seguramente estará mais presente na nossa prática clinica pelo que, uma intervenção precoce é de suma importância, tal como a prevenção e alerta à população.