Vanessa Vieira, João Pedro Silva, Leonor Monjardino, Almerindo Rego
A sarcoidose é uma doença rara, sistémica, de etiologia desconhecida e que em 90% dos casos dá inflamação granulomatosa do pulmão. O envolvimento cardíaco ocorre em 5% dos casos e pode evoluir para cardiopatia restritiva ou disritmias.
Os autores apresentam um caso de sarcoidose ganglionar e cardíaca, cujo diagnóstico foi de extrema dificuldade.
Mulher de 52 anos, hipertensa. Inicia em Agosto de 2018 quadro de tosse seca e febre de predomínio vespertino e com cedência ao Naproxeno. Da avaliação para Síndrome Febril indeterminado, destacou-se nas análises apenas Velocidade de Sedimentação elevada e IGRA positivo, com TC cervico-toraco-abdomino-pélvica sem alterações de relevo. Entretanto, com regressão completa da sintomatologia. Em Dezembro de 2018, por recorrência de queixas de febre e dor na anca direita, é realizada RMN da anca com documentação de abcesso da articulação coxo-femoral. Assim, foi ao Bloco para drenagem e iniciou antibioticoterapia endovenosa, com resolução das queixas. Em Janeiro de 2019 inicia quadro de dispneia e cansaço para esforços progressivamente menores, sensação de aperto retro-esternal com irradiação ao Membro superior esquerdo e com agravamento ao esforço. Realiza radiografia de tórax que documenta alargamento da silhueta cardíaca. No ECG com diminuição da voltagem em todas as derivações. Faz Ecocardiograma transtorácico que documenta derrame pericárdico de moderado volume e com TAPSE diminuído. É internada para vigilância e estudo. Realiza TC de corpo que documenta adenopatias múltiplas mediastínicas. Assim, realizou mediastinoscopia com excisão de vários gânglios mediastínicos. No exame de anatomia patológica com inflamação granulomatosa típica de sarcoidose”. No exame direto e cultural dos gânglios apresentou negatividade para pesquisa de Bacilo ácido-álcool-resistente. Foi também solicitada cintigrafia com gálio que confirmou não só envolvimento ganglionar, mas também cardíaco. Assim, iniciou terapêutica com Prednisolona na dose de 1mg/Kg/dia e Isoniazida (a qual cumpriu 1 mês após resultados culturais), com regressão progressiva do derrame pericárdico e mantendo-se sempre assintomática.
Em conclusão, nas doenças como a sarcoidose, nem sempre o diagnóstico é óbvio, necessitando na maior parte das vezes diagnóstico histológico, uma vez que nem mesmo a clínica ou até o doseamento da Enzima Conversora de Angiotensina são sensíveis ou específicos na doença. De qualquer forma, a introdução de terapêutica imunossupressora em fase precoce da doença, podem mudar o curso e a agressividade da mesma.