Joana Almeida Calvão, Mónica Dinis Mesquita, Mariana Conde, Fernando Salvador, Paula Vaz Marques
Introdução: A osteoatropatia hipertrófica caracteriza-se pelo desenvolvimento de hipocratismo digital, periostose e artrite de ossos longos, e está associada quer a distúrbios hereditários primários, quer a distúrbios secundários por patologias pulmonares ou cardíacas crónicas que condicionam hipoxia periférica. Há também descrições da sua associação às neoplasias pulmonares, sendo uma possível manifestação paraneoplásica.
Caso Clínico: Sexo masculino de 71 anos, autónomo, com antecedentes pessoais de diabetes mellitus tipo 2, hiperplasia benigna da próstata e síndrome de apneia obstrutiva do sono, encaminhado para a Consulta Externa de Medicina Interna para estudo de artralgias inflamatórias. Referia gonalgia inflamatória com 12 meses de evolução com progressivo aumento até franca limitação funcional e um episódio autolimitado de tosse hemoptoica. Objetivamente com evidência de face rugosa e seborreica, hipocratismo digital nos dedos das mãos e pés, sem outras alterações relevantes. Aportava estudo prévio com tomografia computorizada (TC) da perna direita com derrame articular femorotibial, reação periostal circunferencial metafisária e diafisária da tíbia, questionando a possibilidade de osteoartropatia hipertrófica secundária. Completou estudo com perfil analítico com discreto aumento da fosfatase alcalina (229 U/L) mas sem outras alterações relevantes, provas funcionais respiratórias compatíveis com DPOC GOLD 2 Grupo A, TC toraco-abdomino-pélvio que descreveu volumosa lesão nodular no lobo superior do pulmão direito, sugestiva de neoformação, com duas lesões idênticas no lobo inferior do pulmão esquerdo. Prosseguiu com biópsia pulmonar transtorácica com anatomia patológica compatível com adenocarcinoma invasor de padrão acinar e tomografia por emissão de positrões com fixação do radiofármaco em densificações pulmonares bilateralmente e na glândula suprarrenal esquerda, suspeita de estar em relação com envolvimento secundário. Discutido em Reunião de Grupo Muldisciplinar, tendo-se decidido terapêutica quimioterápica paliativa com permetrexedo e carboplatina.
Discussão: A osteoartropatia hipertrófica secundária a neoplasias pulmonares é mais frequentemente associada ao adenocarcinoma pulmonar, seguindo-se o carcinoma de pequenas células. A sua fisiopatologia permanece pouco definida, havendo várias hipóteses relativamente à sua origem. O tratamento sintomático com anti-inflamatórios não esteroides ou outros analgésicos faculta alívio sintomático significativo e o tratamento da patologia subjacente permite, na maioria dos casos, a regressão das manifestações clínicas. Quando a sintomatologia é refratária, pode ser equacionado o tratamento com pamidronato e ácido zolendrónico.