Centro Hospitalar de Leiria (CHL), Hospital de Santo André (HSA), Leiria, Portugal
Cátia Faria, Cátia Ribeiro Santos, Diana Moura, João Crespo Santos
Introdução: As vasculites podem acometer pequenos, médios ou grandes vasos podendo ser de etiologia primária ou secundária. São habitualmente raras e as suas consequências dependem do calibre dos vasos afetados e dos órgãos atingidos.
Caso clínico: Os autores descrevem o caso de um doente de 81 anos, género feminino, com antecedentes de dislipidemia, medicada com uma estatina e sem contexto epidemiológico relevante. Apresentou-se com síndrome febril com 2 meses de evolução, de início concomitante com cirurgia para reparação de fratura peri-protésica no fémur esquerdo. Associado a anorexia e perda ponderal ligeiras. Por elevação dos parâmetros analíticos de infeção e queixas de disúria e frequência miccional, foi assumida cistite nosocomial tendo iniciado ciclo de antibiótico. Manteve-se subfebril durante tratamento e reiniciou febre após termino de antibioterapia, alternando febre com e sem calafrio, pelo que foi internada para despiste de foco infeccioso no material de osteossíntese. No internamento foi objetivado sopro cardíaco de novo tendo feito ecocardiograma transtorácico e transesofágico, ambos excluíram presença de vegetações ou massas intracavitárias. Foi excluída a hipótese de origem no material de osteossíntese. Realizou rastreios sépticos consecutivos que foram negativos e serologias negativas. Analiticamente apenas com elevação da proteína C reativa (PCR) e da velocidade de sedimentação (VS) com anemia normocítica, normocrómica ligeira. Para exclusão de lesões sangrantes realizou endoscopia digestiva alta e baixa que excluíram tanto lesões mucosas suspeitas como sangrantes. Por apresentar dor na cintura escapular incapacitante, de novo, realizou tomografia da coluna que excluiu espondilodiscite. A tomografia toraco-abdomino-pélvica revelou uma fina lâmina de derrame pleural à direita e 2 quistos hepáticos, sem adenopatias ou massas suspeitas. Para despiste de alterações dos vasos do pescoço realizou angiotomografia que foi negativa para tal. Apresentou melhoria da dor e iniciou, então, rigidez cervical sem outros sinais meníngeos. Nesse contexto foi feita punção lombar com líquor negativo para alterações da composição e bactérias. Por suspeita de quadro sistémico realizou tomografia por emissão de positrões que revelou captação difusa nas artérias axilares, braquiais, ilíacas e femorais, compatível com vasculite. Fez ainda biópsia da artéria temporal que foi negativa para artrite das células temporais. Posto isto, iniciou corticoterapia 1mg/kg de peso obtendo-se melhoria clínica, com apirexia sustentada, e melhoria analítica da PCR e VS.
Conclusão: Com este caso pretende-se salientar que, apesar de existir um foco provável relacionado com cirurgia recente, é importante uma boa anamnese, que salientou que o início da febre seria prévio à cirurgia. Assim, integrando todos os dados clínicos, a evolução da situação clínica e resposta da doente à terapêutica, pode excluir-se outras causas graves de síndrome febril.