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HEPATOCARCINOMA DISFARÇADO DE ABCESSO HEPÁTICO EM FÍGADO NÃO CIRRÓTICO
Doenças hepatobiliares - E-Poster
Congresso ID: P410 - Resumo ID: 1077
Centro Hospitalar do Baixo Vouga
Tiago Valente, Carolina Amado, Mariana Maranhas, Marcelo Aveiro, Fani Ribeiro, Pedro Neto, Gorete Jesus
INTRODUÇÃO
O Carcinoma Hepatocelular (CHC) em fígado não cirrótico tem características distintas daquele que ocorre em doentes com cirrose. A apresentação clínica é inespecífica com sintomas constitucionais como febre, mal-estar geral, astenia e anorexia e a alfa-fetoproteína (AFP) está habitualmente normal. Estas características tornam o diagnóstico desta entidade um desafio. Está descrito na literatura que os CHC podem ter uma apresentação clínica tipo-abcesso hepático pelas suas características fisiopatológicas. Apresentamos um caso clínico em que o diagnóstico diferencial entre CHC e abcesso hepático foi difícil mas bem-sucedido.

DESCRIÇÃO DO CASO
Homem, 63 anos, recorreu à urgência por náuseas e astenia com 2 semanas de evolução e febre desde o dia anterior. À admissão apresentava-se febril, hipotenso, taquicárdico e taquipneico, sem outras alterações ao exame objetivo. Analiticamente com anemia, trombocitopenia, lesão renal aguda, proteína C reativa (PCR) 19.10 mg/dL, insuficiência respiratória hipoxémica, acidemia metabólica e leucocitúria. Por suspeita de urossépsis iniciou empiricamente ceftriaxone. Hemoculturas e uroculturas negativas. Por ausência de resposta escalou-se terapêutica para Piperacilina-Tazobactam (PipTazo). Realizou-se ecografia abdominal que mostrou nódulo com 44mm de maior diâmetro. Analiticamente com AFP 11.7 ng/mL, VHB, VHC e HIV negativo. A ressonância magnética (RM) evidenciou lesão com 7.8cm x 10.8cm x 11cm com áreas de hemorragia e necrose interna, sugerindo como 1ª hipótese CHC e como 2ª abcesso hepático. Fez-se biópsia da lesão guiada por tomografia computorizada (TC) que mostrou ausência de lesão epitelial maligna com infiltrado de células inflamatórias sugestivas de processo infeccioso, pelo que se assumiu diagnóstico de Abcesso Hepático. Por ressurgimento da febre com aumento da PCR para 23.77 mg/dL e procalcitonina 7.01 mg/dL, escalou-se terapêutica para Meropenem, sem isolamento de agente etiológico em exames culturais. Repetiu RM, sobreponível à anterior. Por manutenção de elevada suspeita de CHC suspendeu-se Meropenem ao 24º dia e repetiu-se biópsia da lesão, com diagnóstico de CHC moderadamente diferenciado. O doente foi submetido a hepatectomia direita, colecistectomia, portotomia com trombectomia e portorrafia e excisão parcial do diafragma direito, mantendo seguimento em consulta.

DISCUSSÃO
Apresentamos um caso de CHC em fígado não cirrótico sem fatores de risco relevantes com AFP baixa, tornando o diagnóstico diferencial com abcesso hepático difícil. Uma vez que os CHC podem ser lesões heterogéneas com áreas de hemorragia e necrose, as biópsias podem não ser representativas da lesão tumoral e o resultado anatomo-patológico deve ser visto de forma crítica e enquadrado no restante quadro clínico e analítico, pelo que em caso de elevada suspeita de CHC e ausência de resposta à terapêutica os exames imagiológicos devem ser discutidos e as biópsias da lesão devem ser repetidas.