Francisca Santos, Ana Alfaiate, Daniela Brigas, Gonçalo Mendes, Hugo Viegas, Margarida Madeira, Clara Rosa, Eugénio Dias, Susana Marques, Ermelinda Pedroso
Mixomas auriculares constituem o tumor cardíaco primário mais comum que, pela inespecificidade ou ausência de sintomas, tornam desafiante o seu diagnóstico precoce, sendo a maioria dos mixomas auriculares benignos e passíveis de ser removidos por excisão cirúrgica. Por outro lado, sabe-se que os tumores metastáticos são significativamente mais frequentes do que tumores primários do coração, sendo que até 3% dos doentes com neoplasia maligna têm identificada metastização cardíaca aquando da autópsia.
Os autores apresentam o caso de homem de 70 anos de idade, com hábitos tabágicos marcados, que foi levado ao Serviço de Urgência por episódio de crise convulsiva inaugural. Neste contexto, foi realizada TC-CE, que revelou lesões cerebrais de natureza secundária, nomeadamente uma lesão nodular hemisférica cerebelosa inferior esquerda, com 17mm de maior eixo, e outra parenquimatosa justa atrial/ subcortical temporoparietal esquerda, esta com 24mm de maior eixo, sugestivas de lesões secundárias. Seguidamente, realizou TC tóraco-abdómino-pélvica, que mostrou uma formação nodular sólida, medindo 22x14mm nos seus maiores diâmetros, em provável relação com atipia, no segmento externo do lobo médio do pulmão direito. Foi realizada PATT, que foi inconclusiva.
Durante permanência na enfermaria de Medicina Interna, realizou ainda Ecocardiotrama transtorácico, com evidência de massa na aurícula esquerda, confirmada posteriormente por ecocardiograma transesofágico, que descrevia massa tumoral no teto da aurícula esquerda com 34mm de maior eixo e 19mm de menor, que apesar das dimensões não parecia interferir com a válvula mitral, colocando-se a dúvida entre a sua etiologia: mixoma auricular versus lesão metastática.
Neste contexto, foi contactada Cirurgia Cardiotorácica, acabando por ser realizada resseção da lesão nodular do pulmão direito, tendo o resultado anatomo-patológico confirmado adenocarcinoma, bem como a remoção curativa da massa localizada na aurícula esquerda (49 x 30mm), cuja análise, por seu turno, estabeleceu o diagnóstico de mixoma auricular.
O doente foi orientado para Consulta Externa de Pneumologia Oncológica, tendo iniciado quimioterapia adjuvante e radioterapia holocraniana.
Os autores apresentam este caso pela raridade do achado intracardíaco, quer fosse ele resultado de secundarização neoplásica, quer se tratasse de um mixoma auricular.