Margarida Madeira, Francisca Santos, Daniela Brigas, Rita Silva, Gonçalo Mendes, Hugo Viegas, Clara Rosa, Eugénio Dias
Introdução: A anemia é reconhecida como um fator de risco para vários desfechos adversos na população idosa, incluindo o aumento da necessidade de admissão hospitalar, da morbilidade e da mortalidade. Apesar da inflamação crónica ou da doença renal crónica serem as principais causas na maioria dos casos, também outros há em que a anemia constitui o único sinal de apresentação de uma lesão maligna oculta. Com a longevidade de população cada vez mais se coloca o dilema de quando e como investigar.
Caso Clínico: Os autores apresentam o caso de uma mulher de 77 anos, com antecedentes de insuficiência cardíaca e Diabetes Mellitus tipo 2, que é referenciada à consulta de Medicina Interna por anemia microcítica e hipocrómica. A doente negava sintomas, nomeadamente perda ponderal, anorexia ou febre. Negava ainda naúseas, vómitos ou alteração do transito intestinal, nomeadamente fezes com caraterísticas compatíveis com melenas ou hematoquézias. Analiticamente, apresentava apenas anemia ferropénica. A doente recusou exames endoscópicos, pelo que realizou reposição de ferro e se manteve sob vigilância. Passados 6 meses, recorreu ao Serviço de Urgência com quadro de astenia, parestesias e confusão mental. Da avaliação analítica, a destacar: AST 152, ALT 44, FA 1048 e yGT 1760. Realizou ecografia abdominal que mostrou hepato-espalenomegália com padrão multinodular, que sugeriu metastização secundária. Para esclarecimento etiológico realizou uma Tomografia computorizada abdomino-pélvica, que para além das alterações descritas anteriormente, não mostrou outros achados relevantes, nomeadamente adenopatias. Após realização de endoscopia digestiva alta - que não mostrou alterações, optou-se pela realização de biópsia hepática, que revelou infiltração por Linfoma não Hodgkin, sugestivo de fenotipo T.
Discussão: Neste caso, perante uma anemia com défice absoluto de ferro, seria mandatória a realização de exames gastrointestinais para exclusão de neoplasia. Contudo, perante a recusa da doente, optou-se por adotar uma atitude expectante, que nos levou a um diagnóstico surpreendente: o Linfoma das células T hepato-esplénico é uma forma rara de neoplasia, estando descritos apenas 100 casos na literatura. Geralmente cursa com hepato-esplenomegália, sintomas constitucionais, trombocitopenia significativa, anemia e leucopenia. Esta é uma forma extremamente agressiva, sendo a sobrevida média inferior a 2 anos, com o pico de incidência em adolescentes e adultos jovens do sexo masculino.