Francisco Pombo, Marina Mendes, Pedro Lopes, Mari Mesquita
Introdução: A cor pulmonale é uma complicação rara da infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH), com uma prevalência de 0,5% nos indivíduos infetados. Descrevemos um caso de cor pulmonale grave como forma de apresentação inicial de infeção pelo VIH.
Caso Clínico: Mulher, 43 anos de idade, sem antecedentes patológicos de relevo, recorre ao serviço de urgência por dispneia para pequenos esforços, em agravamento progressivo, nos últimos 4 meses. Objetivada insuficiência respiratória hipoxémica grave. Realizado ecocardiograma transtorácico que demonstrava dilatação das cavidades direitas, depressão severa da função sistólica do ventrículo direito e elevada pressão sistólica na artéria pulmonar (74mmHg) a evidenciar hipertensão pulmonar grave bem como discreto derrame pericárdico circunferencial e imagem compatível com hepatopatia congestiva em TAC. Internada no serviço de Medicina Interna para investigação.
Do estudo efetuado inicial destaca-se: elevada velocidade de sedimentação 85mm e gamopatia policlonal. As serologias víricas para vírus da hepatite B e C foram negativas, mas o teste ELISA de 4ª geração para VIH 1 foi positivo, o qual foi confirmado posteriormente com Western Blot. Apresentava contagem de linfócitos T CD4+ 288 células/µL e RT-PCR com 556000 cópias/mL. Prosseguiu estudo com angioTC torácico que não objetivou tromboembolismo pulmonar (TEP) agudo ou crónico, tendo efetuado cintigrafia de ventilação-perfusão que revelou defeito de perfusão, não concordante com a ventilação, no segmento posterior do lobo inferior do pulmão esquerdo, em provável relação com TEP crónico. Instituída terapêutica diurética para compensação de insuficiência cardíaca, com franca melhoria sintomática, tendo tido alta hipocoagulada com varfarina e orientada para as consultas especializadas de Medicina Interna (insuficiência cardíaca e VIH).
Após a alta a doente teve outros dois internamentos hospitalares: um por agudização da insuficiência cardíaca e outro por osteomielite do esterno (após traumatismo), complicada de choque séptico e disfunção multiorgânica, tendo vindo a falecer 2 meses após o diagnóstico de VIH.
Discussão: O TEP crónico e cor pulmonale são complicações raras e graves da infeção pelo VIH, estando associadas a pior prognóstico. Neste caso, em particular, destaca-se o facto destas complicações cardiovasculares terem sido a sua manifestação inicial.