23

24

25

26
 
DO SINUS PILONIDALIS À LEISHMANIOSE VISCERAL
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P423 - Resumo ID: 1096
Centro Hospitalar de Setúbal
Francisca Santos, Ana Alfaiate, Daniela Brigas, Gonçalo Mendes, Hugo Viegas, Margarida Madeira, Clara Rosa, Eugénio Dias, Susana Marques, Ermelinda Pedroso
As Leishmanioses constituem um grupo de doenças causadas por espécies de um protozoário intracelular, como a Leishmania donovani ou Leishmania infantum (chagasí), responsáveis pela Leishmaniose visceral.
Descrevemos o caso de um homem de 19 anos, de raça negra e natural do Gâmbia, a residir em Portugal desde 2012 em más condições sanitárias, com antecedentes pessoais de Diabetes mellitus tipo 1, admitido ao Serviço de Urgência por lombalgia e tumefação supurativa na região intranadegueira, associados a cefaleia, astenia e febre com 2 semanas de evolução. Foi objetivada febre, adenopatias inguinais não dolorosas e sinus pilonidalis sacrococcígeo infetado. Laboratorialmente com hemoglobina 11,6g/dL, 3900 leucócitos, hiponatrémia ligeira, LDH de 636U/L e discreta elevação da AST, e ecograficamente, com hepatoesplenomegália moderada. Foi internado para investigação do quadro, medicado com Ceftriaxone e Metronidazol.
No internamento verificou-se agravamento da pancitopénia, ferritina 27071ng/mL, elevação das transaminases, hipertrigliceridémia e HDL 5mg/dL. Colocada a hipótese diagnóstica de Síndrome Hemofagocítico, realizou Mielograma/ Biópsia óssea que revelou a presença de blastos CD34, com aumento da série megacariocítica dismórfica. Este exame foi repetido noutro Centro Hospitalar tendo-se excluido doença hematológica e sem observação direta de Leishmania. Da restante investigação etiológica apenas se verificou positividade dos anticorpos totais Epstein Barr com PCR positiva, mas carga viral negativa, exckuindo-se esta infeção como fator desencadeante, e anticorpos IgM anti-borrelia positivos, confirmado por Immonoblot e Elisa, levando a associação terapêutica de doxiciclina, sem melhoria evidente.
Mantendo o estado clínico e após discussão com Hematologia, foi iniciada corticoterapia, suspensa 4 dias depois por agravamento da pancitopénia. Por epidemiologia e clínica sugestivas desde o inicio para infeção por agente da espécie Leishmania, e dada a gravidade do quadro, acabou por ser iniciada terapêutica empírica com Anfotericina B lipossómica. O doente evoluiu, ainda assim, com discrasia hemorrágica importante, o que motivou a sua transferência para a UCI, acabando por ser esplenectomizado para controlo da discrasia e das alterações hematológicas. O exame anátomo-patológico do baço confirmou o diagnostico de Leishmaniose Visceral.
Teve alta após completar a terapêutica, com melhoria clínica e laboratorial significativas.
Os autores apresentam este caso por se tratar de um caso interessante, pouco frequente, que acabou por se tornar um desafio diagnóstico para varias especialidades envolvidas, na medida em que a evolução clinica foi complexa e o processo diagnóstico teve vários fatores confundentes, obrigando ao prolongamento do internamento e à realização e repetição de vários exames complementares.