Sara Martins, Tânia Ferreira, João Silva, Ana Reis, Gonçalo Miranda, Isabel Caballero, Liliana Fonseca, Raquel Faria, Esmeralda Neves, Carlos Vasconcelos
Introdução
Os anticorpos antinucleares (ANAs) são frequentemente utilizados como método complementar para o diagnóstico em doentes com suspeita clínica de doença autoimune (DAI). Contudo, alguns estudos retrospectivos demonstraram que a positividade para os ANAs tem um baixo valor preditivo positivo para a deteção da mesma. Assim, o papel dos ANA como marcador diagnóstico permanece algo controverso.
O objectivo deste estudo foi caracterizar uma população de doentes com ANAs positivos e a sua relação com o diagnóstico final de DAI.
Métodos
Estudo retrospetivo e observacional dos doentes avaliados em Consulta Externa de Doenças Autoimunes e Imunologia Clínica de um centro terciário durante os anos de 2016 e 2017. Critérios de Inclusão: doentes com uma primeira titulação de ANA superior a 1/160; exclusão com diagnóstico prévio de DAI. Análise estatística com SPSSv21.0. Usou-se a curva ROC para definição de título de anticorpos com maior especificidade para diagnóstico de doença autoimune; foi considerado significativamente estatístico p<0,05.
Resultados
Dos 227 doentes avaliados foram incluídos 192, dos quais 78%(n=149) do sexo feminino, com idade média 48,5 ±16,2 anos. Destes, 75% (n=144) tinha doença autoimune: Artrite Reumatóide (17%, n=25), Lupus Eritematoso Sistémico (14%, n=20) e artrite psoriática (12,5%, n=18). Dos 25% (n=48) que não apresentavam DAI, as patologias identificadas foram patologia osteoarticular degenerativa (n=10), fibromialgia (n=5), tiroidite autoimune (n=3) e infeção por HIV(n=2). O padrão mosqueado foi o mais comum tanto nos doentes com DAI como nos sem DAI (p= 0,923). O padrão centrómero (n=10) associou-se em 50% a esclerodermia sistémica limitada. Relativamente aos restantes padrões não houve nenhuma tendência de associação a nenhuma patologia DAI específica.
Verificou-se que os doentes com DAI apresentam uma mediana de títulos de ANAs superiores quando comparados com os doentes sem DAI [1/320 (IQR: 1/160 – 1/1280) vs 1/160 (IQR: 1/160 – 1/320); p= 0,012], e que para títulos >1/640 há uma maior probabilidade de estarmos perante uma DAI (especificidade 92%; sensibilidade 27%; AUC 0,614, p= 0,006).
Conclusões
À semelhança de outros estudos, os ANAs foram positivos também em pacientes sem DAI. Contudo os doentes DAI mostram títulos significativamente mais elevados, sendo que para valores >1/640 apresentam uma elevada especificidade para DAI, perdendo porém sensibilidade.
Neste estudo não se identificou relação entre os padrões de anticorpos e os diagnósticos específicos de DAI nem o seu atingimento sistémico, no entanto esta avaliação é condicionada pelo reduzido tamanho da amostra.