Centro Hospitalar Tâmega e Sousa

Mais de 90% da população mundial tem serologias positivas para o Vírus Herpes Simplex tipo 1 (HSV – 1) pela 4ª década de vida, embora a maioria sejam portadores assintomáticos. A transmissão é feita pessoa-a-pessoa através do contacto próximo com as lesões ou secreções do local da lesão, por exemplo, a saliva. A sua apresentação e gravidade são variáveis, sendo mais frequentes as lesões orais e periorais auto-limitadas, não existindo diferença estatisticamente significativa na prevalência ou recorrência nos dois sexos. Infeções por HSV -1 recorrentes são muito frequentes, em cerca de 20-40% da população.
Descreve-se o caso de uma mulher de 21 anos de idade, sem antecedentes pessoais relevantes ou medicação habitual. Recorre ao serviço de urgência (SU) por aparecimento de lesões pruriginosas em alvo na face extensora dos membros superiores com evolução para os membros inferiores e tórax posterior, associadas a lesões vesiculares e ulceradas orais e faríngeas (a condicionar odinofagia) e genitais, sem resposta a aciclovir oral. Referia vários episódios de lesões labiais vesiculares sugestivas de herpes labial, o último dos quais há 2 semanas e que ainda persistia à admissão no SU. Foi internada no Serviço de Medicina Interna para estudo etiológico. Do estudo pedido em internamento, sem alterações de relevo, nomeadamente sem alterações do estudo auto-imune e dos marcadores víricos. Assumido o diagnóstico de eritema multiforme major pelo contexto clínico (infeções recorrentes por HSV-1), características lesionais e atingimento da mucosa oro-genital. Realizou biópsia de uma das lesões que se revelou compatível com este diagnóstico. Foi instituída Prednisolona 1mg/kg/dia até melhoria do quadro, tendo alta sob valaciclovir 1000mg/dia durante 6 meses para prevenir reativação do HSV-1 e, por conseguinte, do eritema multiforme.
O Eritema multiforme é uma condição imuno-mediada, caracterizada pelo aparecimento de lesões cutâneas em alvo e que, geralmente, aparece em indivíduos entre os 20 e os 40 anos. A patogénese ainda não está bem esclarecida, podendo ser precipitada por vários fatores como fármacos, neoplasias, infeções, doenças auto-imunes, entre outras, sendo o mais comum a infeção pelo HSV por uma “hipersensibilização” virulógica.