Tânia Batista, João Mendes, Tiago Barra, Paula Manuel, António Correia
Introdução:
A encefalopatia diz respeito, de uma forma geral, a afeções do sistema nervoso central. Pode surgir na presença de uma infeção, de algumas intoxicações ou ser complicação de uma doença neurológica. É fundamental o conhecimento da etiologia para a realização do tratamento mais adequado.
Caso clínico:
Mulher, 74 anos. Antecedentes de doença renal crónica estádio 5 sob programa regular de hemodiálise por fístula arteriovenosa e hipertensão arterial. Medicada com hipotensores. Recorreu ao serviço de urgência (SU) por quadro de desorientação, agitação psicomotora e vómitos, de instalação súbita. À admissão era de salientar presença de febre (temperatura 39ºC), hipertensão arterial e alternância entre períodos de agitação e de prostração. O estudo complementar realizado no SU não apresentou alterações de relevo, incluindo punção lombar que excluiu infeção do sistema nervoso central. Internada para esclarecimento etiológico do quadro clínico sob antibioterapia empírica após colheita de hemoculturas e urocultura, que foram negativas. Na primeira avaliação, no 2.º dia de internamento, encontrava-se prostrada e pouco reativa, estando em apirexia. Repetiu TC-CE sem lesões endocranianas agudas. Realizou também RMN-CE e EEG sem alterações a justificar o quadro clínico. Foi observada por Neurologia que foi da opinião de que a alteração da vigília seria de causa metabólica pelo que a Nefrologia programou sessões de diálise diárias (admitindo como possível etiologia do quadro encefalopatia urémica em doente dialisado crónico) com resolução clínica completa apenas após 7 dias de intensificação do tratamento dialítico.
Discussão:
A presença de encefalopatia urémica em doentes dialisados cronicamente com valores de urémia relativamente baixos tem sido observada com alguma frequência na prática clínica. Em geral, a encefalopatia apresenta-se como um complexo de sintomas que progride de uma leve obnubilação sensitiva até ao delírio e coma. A fisiopatologia da encefalopatia urémica é incerta mas sabe-se no entanto que se trata de um processo complexo e multifatorial, que inclui distúrbios hormonais, stress oxidativo, acumulação de metabolitos e desequilíbrio entre os neurotransmissores excitatórios e inibitórios.