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POLINEUROPATIA ALCOÓLICA – UMA ASSOCIAÇÃO DESVALORIZADA?
Doenças cérebro-vasculares e neurológicas - E-Poster
Congresso ID: P621 - Resumo ID: 1115
Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa
Francisco Pombo, Marina Mendes, Pedro Lopes, Mari Mesquita
Introdução: A polineuropatia é uma patologia do sistema nervoso periférico caraterizada por sinais e sintomas bilaterais e que também pode incluir disfunção do sistema nervoso autónomo, tendo várias causas conhecidas.

Caso Clínico: Homem de 51 anos, com hábitos alcoólicos marcados (cerca de 160 gramas de álcool/dia), com antecedentes de disfunção erétil e parestesias dos membros, cujo início não sabia precisar e sem qualquer medicação habitual. O doente foi levado ao Serviço de Urgência por febre com dez dias de evolução, tonturas e alteração do comportamento. Do estudo sumário no SU destaca-se: elevação dos parâmetros inflamatórios sistémicos, com rx tórax, TC crâneo e TC toraco-abdomino-pélvico sem alterações de relevo. Realizada punção lombar com saída de líquido cefalorraquidiano água de rocha sem características inflamatórias. Internado no serviço de Medicina Interna para estudo de síndrome febril.
Durante a permanência no internamento apresentou sinais inflamatórios na nádega direita e subida marcada de parâmetros inflamatórios, a par da febre que se manteve diariamente. Realizou estudo ecográfico que constatou uma coleção abcedada de 5*1,5*5cm, tendo sido instituída antibioterapia empírica com ceftriaxone e clindamicina e efetuada drenagem ecoguiada, com franca melhoria clínica e analítica (resolução dos parâmetros inflamatórios e febre).
Durante o internamento, o doente apresentou um episódio de síncope com pródromo, presenciada após o banho, com rápida recuperação com o decúbito, que se assumiu tratar de síncope reflexa (vasovagal). Nos dias seguintes observou-se intolerância marcada para o levante, com tonturas e vários episódios de lipotímia, tendo-se constatado franca hipotensão ortostática. Iniciada fluidoterapia apesar de clinicamente não evidenciar sinais de hipovolémia/desidratação. Do estudo efetuado destacamos ECG e ecocardiograma transtorácico sem alterações. Paralelamente apresentou dois episódios de retenção urinária, com necessidade de algaliação. Perante o descrito, dado apresentar queixas de disfunção eréctil e parestesias nos membros superiores e inferiores, equacionada possibilidade de polineuropatia com insuficiência autonómica. Do estudo analítico realizado destaca-se serologia do VIH 1/2 e VDRL negativos, excluindo-se diabetes mellitus, défices de vitamina B12 ou alterações da função tiroideia. Realizada eletromiografia que demonstrou polineuropatia anoxal sensitiva grave. Instituída terapêutica com fludrocortisona e recomendada abstinência alcoólica total, com resolução de todas as alterações neurológicas, apresentando ao fim de vários meses após a alta apenas queixas de parestesias.

Discussão: A polineuropatia de etiologia tóxica (frequentemente alcoólica mas também relacionada com quimioterápicos) é predominantemente axonal, podendo ser aguda, subaguda ou crónica. É uma causa importante de disautonomia, sendo importante a realização de uma anamnese e estudo exaustivos para exclusão de outras causas frequentes.