Irene Verdasca, Patrícia Vicente, Vanisa Rosário, Ana Lourenço, José Guia, Luís Campos
Introdução: O número de internamentos em que a diabetes surge como diagnóstico associado tem evidenciado uma dinâmica de crescimento acentuada nos últimos anos, ao contrário do número de internamentos em que diabetes se assume como diagnóstico principal. Quanto à mortalidade, em Portugal, a população com diabetes representa anualmente cerca de 26% da mortalidade intra-hospitalar.
Objetivo: Determinar os principais motivos de internamento dos doentes pertencentes à consulta de diabetes hospitalar e caracterizar esta população.
Material e Métodos: Análise retrospetiva dos doentes observados na consulta de diabetes, tipo 2, durante o ano de 2017. Através do processo eletrónico foram incluídos apenas os doentes que foram internados durante o período de 1 ano após observação em consulta. Recolha de variáveis demográficas, tempo de evolução da doença (TED), valor de HbA1c e diagnósticos principais.
Resultados: Do total de 1862 doentes observados em consulta durante o ano de 2017, foram internados 197 doentes (10,6%), a maioria do sexo masculino (64%), com média de idades de 72 anos, com HbA1c média de 7,5% e TED média de 15 anos. As patologias infeciosa (23,9%), cardiovascular (22,3%), cirúrgica (12,7%), ortopédica (8,1%), cerebrovascular (7.6%) e neoplásica (7,4%) representam a grande maioria das admissões hospitalares.
Destaca-se a análise das principais causas médicas- pneumonia, insuficiência cardíaca (IC) e acidente vascular cerebral (AVC) isquémico. Para a pneumonia (12,2%) os doentes tinham uma média de idades de 75 anos (coeficiente de variação (cv) 11%), HbA1c média de 7,5% (cv 26%), TED em média de 14,8 anos (cv 75,8%). A IC representa 13,7% dos internamentos e estes tinham uma média de idades de 76 (cv 11%), HbA1c média de 7,9% (cv 22%), TED em média de 17 anos (cv 56%). O AVC isquémico surge em 5,6% dos internamentos e os doentes apresentavam uma média etária de 78 anos (coeficiente de variação [cv] 10%), HbA1c média de 8,4% (cv 28%), TED em média de 16 anos (cv 97%). Relativamente aos óbitos, estes ocorreram em 7,1%, a maioria do sexo feminino (86%), com média de idades de 72 anos, HbA1 média> 8%, com TED em média de 13 anos. As 3 principais causas de óbito foram por patologia infeciosa (50%), nomeadamente pneumonia e choque séptico; patologia cerebrovascular (21,4%) - a maioria por AVC isquémico- e por patologia cardiovascular (14,2%) representadas por IC com evolução para choque cardiogénico.
Conclusões: A descompensação por patologia do foro respiratório, cardíaco, cerebrovascular ou do foro cirúrgico surge como um dos principais motivos de internamento hospitalar. Apesar da dimensão da amostra, constata-se que este grupo de doentes são idosos com TED prolongado e que são internados não pela descompensação da diabetes mas pelas complicações secundárias que lhe estão associadas. Os óbitos listados apesar de idade mais jovem e TED menor em relação à amostra apresentam um pior controlo metabólico prévio.