Sara Augusta Ramos, Danay Perez, Ana Isabel Lopes, Albina Moreira, Hugo Miguel Oliveira, Adelina Pereira
A eosinofilia no sangue periférico (≥500 uL eosinófilos) pode ter inúmeras causas entre elas, alérgicas, infecciosas, inflamatórias ou oncológicas, algumas de rara prevalência. As causas de hipereosinofilia devem ser identificadas precocemente de forma a avaliar a gravidade da situação, o envolvimento de órgão associado e implementar o tratamento adequado.
Mulher, 74 anos, com história de eosinofilia estável, assintomática, desde 2016, na ordem de 1000 – 1500 uL, cujo estudo etiológico não permitiu diagnóstico de causa subjacente. Encaminhada dos Cuidados de Saúde Primários ao Serviço de Urgência por hipereosinofilia de 8200 uL associada a quadro de edemas periféricos e noção de aumento do perímetro abdominal com cerca de 2 meses de evolução. Associadamente astenia e anorexia, sem perda ponderal objectivada e percepção de cansaço para esforços moderados. Referência, ainda ao desenvolvimento lesões cutâneas pruriginosas, dispersas por várias regiões do corpo. À admissão no SU, sem evidência de febre, documentada macicez dos flancos na exploração abdominal com confirmação ecográfica de ascite. Visualizadas lesões cutâneas, pruriginosas, papulosas, escoriadas, generalizadas, envolvendo a quase totalidade do tegumento. Analiticamente com anemia normocítica normocrómica (Hb 10.6 g/dL), LRA AKIN1 (Creatinina de 1.3 mg/dL e Ureia: 45 mg/dL), ligeiro aumento da PCR (16.40 mg/L), leucocitose (15850/uL) com hipereosinofilia de 9100 uL e elevação da LDH de 430 U/L (intervalo de referência: 125 - 220 U/L). Internada para estudo, TC abdominal com presença de ascite e múltiplos gânglios linfáticos dispersos. Efectuada paracentese diagnóstica do líquido ascítico com gradiente de albumina sero-ascítico de 2.3 e ausência de células malignas. Imunofenotipagem de sangue periférico compatível com o diagnóstico de Linfoma/Leucemia de células T CD4 maduras, com componente de células grandes. Exérese de gânglio, cuja histologia era sugestiva de Linfoma T periférico com características de Linfoma T Angioimunoblástico.
Apesar do extenso diagnóstico diferencial de hipereosinofilia, algumas causas, apesar de raras, pela sua gravidade clínica devem ser exploradas de forma a permitir um tratamento precoce e melhoria do prognóstico.