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FEBRE Q – SÉRIE DE CASOS
Doenças infeciosas e parasitárias - Comunicação
Congresso ID: CO205 - Resumo ID: 1145
Centro Hospitalar Universitário do Algarve - Hospital de Faro, Medicina 2
Rafaela Pereira, Rosário Blanco, Alexandra Martins, Joana Pestana, Ana Pimenta de Castro, Helena Brito, Mário Lázaro
Introdução:
A febre Q é uma zoonose causada por Coxiella burnetti de distribuição mundial. Os dados disponíveis apontam para uma baixa incidência desta doença em Portugal, no entanto, acredita-se que a mesma esteja subdiagnosticada e subnotificada. Entre 2012 e 2015 foram reportados entre 20 a 26 casos/ano em dados publicados pela DGS.

Material e Métodos: Relatam-se 3 casos de doentes com febre Q que surgiram numa enfermaria de Medicina Interna entre Fevereiro de 2018 e Janeiro de 2019.

Resultados:
Homem, 67 anos, com quadro de síndrome constitucional com perda ponderal de 20% e febre intermitente com um mês de evolução. Ao exame físico salientava-se eritema palmar difuso pruriginoso. Analiticamente com aumento dos parâmetros inflamatórios e das transaminases. Serologias a anticorpos anti-C. burnetti fase II revelaram IgM elevada e IgG negativa. Contexto epidemiológico: esteve um mês antes numa casa do campo abandonada com roedores. Foi tratado com doxiciclina 100 mg 12/12h com resolução da febre e ganho ponderal progressivo.
Mulher, 53 anos, vive em ambiente rural e tem 3 cães com vacinas actualizadas. Quadro de febre com sintomatologia gripal com duas semanas de evolução e episódio de acolia. Objectivamente sem alterações relevantes. Analiticamente com elevação da PCR, transaminases, gama-GT, LDH e bilirrubinas. Serologias a anticorpos anti-C. burnetti fase II positiva para IgM e negativa para IgG. Completou 14 dias de doxiciclina 100 mg 12/12h com resolução das queixas de astenia ao fim de 2 meses.
Homem, 46 anos, internado para estudo de quadro de poliartralgias migratórias com 3 meses de evolução, úlcera na úvula, úlceras escrotais, hiperémia conjuntival, lesões purpúricas nos membros inferiores e febre no último mês. Analiticamente refere-se factor reumatóide e p-ANCA positivos assim como serologia a anticorpos anti-C. burnetti fase II IgM positivo com baixo título e IgG negativa. Actualmente o doente encontra-se assintomático e em vigilância em consulta externa dada a interpretação inicial do quadro dentro de um contexto auto-imune.

Conclusões:
Estes 3 casos que surgiram num curto espaço de tempo relembram-nos da importância de se equacionar a possibilidade de febre Q em vários diagnósticos diferenciais. Todos os casos clínicos expostos revelaram-se um desafio diagnóstico pela sua inespecificidade. O especto de manifestações da febre Q é amplo, podendo ocorrer de forma assintomática ou manifestar-se como síndrome febril confundível com uma virose ou síndrome febril prolongado.
Quando existem antecedentes epidemiológicos o diagnóstico torna-se mais evidente, no entanto, este deve ser sempre considerado mesmo na ausência de contexto claro.
Recorda-se ainda a importância desta doença ser notificada ao SINAVE para se realizar uma avaliação epidemiológica correcta, assim como estabelecer a incidência e distribuição geográfica no nosso país.