Inês Goulart, Inês Nogueira da Fonseca, Ana Teresa Pina, Tiago Petrucci, Laura Pereira, Manuel Ferreira Gomes, Paulo Cantiga Duarte, José Luís Ducla Soares
O mesotelioma pleural papilar é uma entidade patológica diferente do mesotelioma pleural maligno, mais raro e sem aparente relação com a exposição a amianto. Difere do mesotelioma mais comum pela sua natureza histológica, afectando as células epiteliais, e pela baixa incidência de metastização, conferindo ao doente um melhor prognóstico.
Os autores apresentam o caso de um homem de 61 anos, sem antecedentes relevantes para além de um tabagismo activo (40 UMA), que recorreu ao SU por quadro de dispneia e dor tipo pleurítica à direita, acompanhado de febre vespertina e sudorese profusa de predomínio noturno, com 3 dias de evolução. Da avaliação inicial, a destacar, elevação dos parâmetros inflamatórios (leucócitos 20.790/mcL e PCR 19,6mg/dL), insuficiência respiratória parcial com hipocápnia e radiografia de tórax com evidência de derrame pleural no 1/3 inferior do hemitórax direito.
Realizou TC tórax com evidência de espessamento nodular sólido com 1.5cm na pleura parietal direita e que confirmou derrame pleural. Foi submetido a toracocentese diagnóstica e terapêutica com saída de 1500mL de líquido pleural sero-hemático, com características de exsudado, e cujo exame citológico destacou predomínio de células CD3+, sem evidência inequívoca de células malignas. Cumpriu ainda, no início do internamento, 7 dias de antibioterapia com levofloxacina, por elevação sustida dos parâmetros inflamatórios, e para cobertura de uma eventual infecção respiratória da comunidade. O restante estudo (pesquisa micobactérias, IGRA, serologia VIH e exames culturais) foi negativo. Por recidiva precoce e sistemática do derrame, realizou no prazo de uma semana e meia, quatro toracocenteses (sempre com drenagem >1500mL). Realizou, ainda, biópsia pleural cega, inconclusiva para hiperplasia mesotelial reactiva vs mesotelioma maligno. Finalmente, realizou biópsia de múltiplas aderências pleuro-pulmonares e nodularidades da pleura parietal por toracoscopia, com evidência de mesotelioma papilar pleural. O doente manteve a estabilidade clínica, sendo posteriormente transferido para o Serviço de Pneumologia II. Por mesotelioma papilar pleural estádio III, e após discussão com Cirurgia Cardiotorácica, iniciada quimioterapia com pemetrexed+carboplatino, completando 3 ciclos entre Novembro/2018 e Janeiro/2019. Mantém seguimento em Consulta, aguardando re-estadiamento da doença.
O caso realça que a abordagem diagnóstica do derrame pleural pode não ser frequentemente linear, destacando também um caso raro de um mesotelioma.