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ENTEROPATIA PÓS-QUIMIOTERAPIA – QUAIS AS PERDAS PARA O DOENTE?
Cuidados paliativos - E-Poster
Congresso ID: P009 - Resumo ID: 1151
Centro Hospitalar e Universitário de São João
Clara Machado Silva; Joana Pimenta; António Braga; Diana Ferrão; João Enes Silva; Nuno Melo; Jorge Almeida
Existem múltiplos efeitos laterais da quimioterapia, que limitam muitas vezes o restante tratamento da doença de base.
Homem, 65 anos, história de pancolite ulcerosa em remissão total, sob mesalazina; linfoma não-hodgkin folicular, tratado previamente com quimioterapia que terminou em Janeiro/2018. Recaída pós-tratamento e transformação em linfoma difuso de grandes células B, com evidência de doença apenas em gânglios inguinais. Sob corticoterapia, a aguardar início de radioterapia. Internado em Junho/2018 por diarreia com acidemia metabólica grave, hipocaliémia e hipoalbuminémia. Sem isolamentos microbiológicos, colonoscopia a confirmar remissão da colite ulcerosa. Realizou enteroscopia por videocápsula que mostrou enteropatia perdedora de proteínas consequente a quimioterapia. Internamento prolongado para ajuste da melhor dieta, com intercorrências graves: choque séptico com ponto de partida em cateter venoso central, neutropenia febril, trombose da veia jugular interna, iniciando hipocoagulação com tinzaparina. Teve alta em Agosto/2018, mantendo seguimento no Hospital de Dia de Hematologia. Em Setembro, em consulta, episódio de síncope sem pródromos, assistido pela equipa de emergência, com taquicardia ventricular autolimitada na monitorização inicial. Analiticamente apresentava hipocaliémia de 2,5 mEq/L, hipomagnesémia de 1,1 mg/dL, acidemia metabólica com pH 7,11 e bicarbonato de 5,6 mmol/L, sem hiperlactacidemia, albumina 13 g/L. Mantinha diarreia com cerca de 5 dejecções líquidas, sem qualquer outra sintomatologia. Esteve internado 6 semanas, com défices nutricionais e iónicos de muito difícil controlo. Foi necessária uma abordagem multidisciplinar com Nutricionistas e Hematologistas para ajustar a dieta e tentar reduzir a suplementação. No entanto, o doente mantinha dejecções frequentes, apesar de mais moldadas. Consequentemente, apresentava hipocaliémia, hipomagnesémia, hipofosfatémia e hipoalbuminémia graves, com anasarca, astenia e miopatia associadas, que dificultavam a mobilidade. Foi rediscutido o plano com a Hematologia e incluíram-se os colegas dos Cuidados Paliativos. Foi explicado o mau prognóstico com a família e o doente e decidido que não apresentava condições para avançar com o tratamento do linfoma, focando-nos em melhorar a sua condição clínica e o seu conforto com vista à alta hospitalar. Foi introduzida morfina oral em dose baixa, como obstipante, com melhoria franca da diarreia, o que permitiu melhor absorção intestinal e melhoria dos défices. Assim, o doente teve alta para o domicílio com apoio de reabilitação motora, com um plano nutricional reforçado com suplementos proteicos e suplementação oral de potássio, magnésio e fósforo. Após 2 meses, o doente apresentava-se capaz de deambular, com edemas em regressão, 1 a 2 dejecções diárias, moldadas, sem novos episódios arrítmicos.
Este caso reforça o conceito de uma abordagem terapêutica focada no doente e nas suas expectativas, mais do que nas suas múltiplas doenças.