Susana Escária, Inês Santos, Ana Bernardo, Margarita Urquiola, Conceição Barata
Introdução: A dexmedetomidina é um agonista selectivo do recetor alfa 2, indicado para sedação de doentes adultos entubados orotraquealmente em Unidades de Cuidados Intensivos que necessitem de um nível de sedação que lhes permita acordar em resposta à estimulação verbal, correspondente a 0 a -3 na escala Richmond de Agitação-Sedação (RASS). Tem como principais efeitos secundários a hipotensão e a bradicardia, sendo relativamente isento de efeitos depressivos respiratórios quando administrada em monoterapia.
Caso clínico: Mulher, de 65 anos, sem antecedentes médicos relevantes, trazida ao serviço de urgência (SU) por ter sido encontrada em casa a vomitar e com alteração do comportamento. À admissão hemodinamicamente estável, e ao exame objetivo destacava-se glasgow de 9, com agitação psicomotora e rigidez da nuca. Na avaliação analítica apresentava aumento dos parâmetros inflamatórios e CK elevado, sem outras alterações significativas. Realizou TAC de crânio, sem alterações. No SU objetivou-se pico febril, com dificuldade em ceder aos antipiréticos, tendo-se realizado punção lombar cujo exame citoquímico revelou 83,2 leucócitos/mm3, com 48% de polimorfonucleares. Perante este resultado, colocou-se a hipótese diagnóstica de meningoencefalite e iniciou terapêutica empírica com ceftriaxone, ampicilina e aciclovir. Por agitação psicomotora mantida e severa, e após várias tentativas de contenção farmacológica sem sucesso, decidiu-se iniciar perfusão de midazolam, não tendo sido possível encontrar nível de sedação adequado, já que a doente com pequenos ajustes de dose, alternava períodos de agitação psicomotora com exteriorização dos cateteres venosos com períodos de prostração e queda da língua. Decidiu-se, após discussão do caso com Unidade de Cuidados Intensivos, iniciar dexmedetomidina na Sala de Observações (SO) do SU, sob monitorização hemodinâmica e vigilância rigorosa, com o objetivo de manter a doente controlada sintomaticamente, sem necessitar entubação orotraqueal. A doente manteve-se sempre hemodinamicamente estável. Após cerca de 12 horas, com a doente vigil e mais colaborante, foi possível suspender a dexmedetomidina. A doente foi internada no Serviço de Medicina, não se tendo isolado nenhum microorganismo no líquor, no entanto com recuperação total do estado de consciência e melhoria dos parâmetros inflamatórios.
Conclusão: A dexmedetomidina é um fármaco recente, utilizado maioritariamente no contexto de Unidades de Cuidados Intensivos, no entanto, dado que se trata de um fármaco sedativo, que não causa depressão respiratória clinicamente significativa, existe um potencial de outras utilizações. Estudos clínicos recentes comparam a utilização da dexmetedomidina com outros fármacos utilizados no tratamento de delirium em doentes não entubados, com resultados promissores. Mais estudos em doentes não entubados fora das unidades de cuidados intensivos são necessários, para a utilização segura e eficaz deste fármaco nesse contexto.