Pedro Magalhães, Gabriel Atanásio, Ema Neto, Filipa Sousa, Tiago Fernandes, Agripino Oliveira, Rafaela Veríssimo
INTRODUÇÃO: As unidades ortogeriátricas são um passo em direcção ao futuro no cuidado de um grupo muito específico e frágil de doentes idosos e com fractura femoral que necessitam de cirurgia e a colaboração da Medicina Interna nesses internamentos é essencial.
OBJETIVO: Avaliar a mortalidade de doentes submetidos a cirurgia ortopédica e identificar factores de descompensação aguda durante o internamento preditores de mortalidade a longo prazo.
MÉTODOS: Estudo prospetivo de doentes com mais de 65 anos, internados entre Janeiro de 2016 e Dezembro de 2018, após cirurgia de correcção de fractura proximal do fémur, num internamento com decisão partilhada entre as especialidades de Ortopedia e Medicina Interna. Foi consultado o processo clínico electrónico relativamente a intercorrências agudas no internamento pós-cirúrgico e datas de óbito. Os resultados foram comparados através de regressão de Cox e curvas de sobrevivência de Kaplan-Meier.
RESULTADOS: Foram avaliados 338 doentes, com média de idades 83,98±7,05 anos, predomínio feminino (80,8%). Mediana de seguimento dos doentes de 550 dias. Mortalidade no internamento foi de 2,6% (n=9) e em ambulatório 22,8% (n=77); As complicações agudas mais frequentes durante o internamento, com impacto na mortalidade a longo prazo foram infecções das vias respiratórias (HR 3,407; p<0,001) e lesão renal aguda (HR 2,775; p=0,025). Outras complicações frequentes, mas sem impacto estatisticamente significativo na mortalidade da amostra incluíram: infecções do tracto urinário (p=0,415), distúrbios hidroeletroliticos (p=0,709), insuficiência cardíaca descompensada (p=0,336) e tromboembolismo venoso (p=0,296).
CONCLUSÃO: Os doentes idosos, com fractura proximal do femur são indivíduos de risco significativo para desenvolvimento de comorbilidades e mortalidade. É essencial reconhecer determinantes que impliquem seguimento e vigilância mais exaustivos. Este estudo conclui que aqueles diagnosticados com infecção da via aérea inferior ou lesão renal aguda durante o internamento pós-cirúrgico, estão associados a maior mortalidade, e que este efeito se estende para além do momento da alta, sendo notáveis divergências nas curvas de sobrevivência até pelo menos 3 anos de seguimento. Como tal, propomos que estes doentes sejam submetidos a uma vigilância mais estreita e um seguimento médico mais frequente.