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NEFRITE INTERSTICIAL INDUZIDA POR MESSALAZINA NUM DOENTE COM COLITE ULCEROSA
Doenças Renais - E-Poster
Congresso ID: P788 - Resumo ID: 1159
Centro Hospitalar Universitário de São João
José Marques, Ana Valente, Ana Ribeiro, Catarina Pereira, Fernando Nogueira, Pedro Ribeirinho Soares, Diana Ferrão, Diana Oliveira, Paula Dias, Pedro Pereira, Jorge Almeida
INTRODUÇÃO
A nefrite intersticial (NI) é uma causa comum de lesão renal (LR) caracterizada por infiltração inflamatória intersticial levando a dano dos túbulos renais e possivelmente a cicatriz renal irreversível que pode resultar em doença renal terminal (DRT).
Apesar de raro, o ácido 5-aminossalicílico (5-ASA), ou messalazina, utilizado no tratamento da doença inflamatória intestinal (DII), é um fármaco capaz de provocar NI.

CASO CLÍNICO
Doente do sexo masculino, 38 anos, ex-fumador (11 unidades maço ano). Diagnóstico de colite ulcerosa (CU) em Maio de 2015, tendo iniciado messalazina na dosagem de 1600 mg/dia. Habitualmente com dejeções de fezes moldadas, sem sangue ou muco. Em Janeiro de 2018 realiza retosigmoidoscopia que demonstra achados compatíveis com agudização da CU.
Desde Junho de 2018 com LR (aumento da creatinina plasmática de 1.07 mg/dL para 1.53 mg/dL). Recorre ao serviço de urgência em Novembro de 2018 por indicação do seu médico assistente na sequência de aumento do valor da creatinina plasmática para 2.19 mg/dL, astenia, anorexia, perda ponderal (cerca de 4 quilos) e dejeções mais líquidas com um mês de evolução. Nega perdas hemáticas ou de muco, febre, artralgias, rash cutâneo, dor abdominal, alterações urinárias, toma de anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs) ou de fármacos de novo, toma de suplementos naturais, exposição a agentes de contraste ou viagens recentes. Analiticamente com anemia, sem leucocitose, proteína C reactiva (PCR) 44.6 mg/L, sem acidemia metabólica ou hipercalémia na gasimetria arterial (GSA); diurese mantida. Exame sumário de urina (ESU) sem alterações de relevo. Ecografia reno-vesical com rins de dimensões conservadas sem ectasia dos sistemas excretores renais. Serologias dos vírus da imunodeficiência humana (VIH), hepatite B (VHB) e hepatite C (VHC) negativas.
Do estudo efetuado no internamento: microalbuminúria na urina de 24 horas, velocidade de sedimentação (VS) 68mm/hora, estudo autoimune negativo.
Colocada a hipótese de NI secundária a 5-ASA tendo o doente realizado biópsia renal, que mostrou infiltrado intersticial marcado, composto maioritariamente por linfócitos e alguns eosinófilos. Decidida suspensão de 5-ASA e início de corticoterapia com prednisolona 40mg/dia (em esquema de desmame progressivo) com melhoria da função renal.

DISCUSSÃO
A nefrotoxicidade foi descrita em alguns doentes com DII tratados com 5-ASA. Contudo, apesar dos casos descritos, o mecanismo claro de causa-efeito ainda não se encontra esclarecido. As formulações orais de 5-ASA devem ser evitadas na doença renal crónica e doentes com factores de risco para nefropatia. São recomendadas avaliações frequentes da creatinina sérica no primeiro ano após início da terapêutica com 5-ASA, uma vez que a sua elevação é o único, mas tardio, sinal da NI induzida por 5-ASA.