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UMA CAUSA POUCO COMUM DE ABCESSOS HEPÁTICOS
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P599 - Resumo ID: 1160
Serviço de Medicina I, Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte
Inês Goulart, Tiago Petrucci, Laura Pereira, Pedro António, Inês Fonseca, Carlos Machado e Costa
O grupo dos Streptococcus anginosus (também conhecido por S.milleri) é um subgrupo do S.viridians do qual fazem parte 3 espécies distintas (S.anginosus, S.intermedius e S.constellatus).
Estes microrganismos fazem parte da flora comensal da cavidade oral e do sistema gastrointestinal, tendo ainda a capacidade de causar infecções sistémicas. No entanto, é a capacidade deste grupo de causar abcessos que lhe confere uma característica única e que o difere dos restantes Streptococcus.
Os autores apresentam o caso de uma mulher de 69 anos, com antecedentes de diabetes tipo 2, hemicolectomia direita por neoplasia do cólon e histerectomia por neoplasia uterina, ambas há mais de 10 anos, e de uma neoplasia da cabeça do pâncreas com invasão da veia porta diagnosticada 2 meses antes do internamento, na altura irressecável, tendo sido submetida a colocação de prótese na via biliar principal.
A doente recorreu ao SU por quadro de febre, vómitos recorrentes, prostração e descompensação da diabetes, com 7 dias de evolução. Da avaliação inicial apresentava elevação dos marcadores de fase aguda e padrão de colestase, realizando ecografia abdominal que evidenciou nódulos hepáticos heterogéneos necróticos. Internada com a hipótese diagnóstica de colangite e metastização hepática, foi iniciada antibioterapia com piperacilina/tazobactam.
Por agravamento clínico com instalação de quadro de choque séptico, foi introduzida antibioterapia com metronidazol e realizada TC abdominal e, posteriormente, RMN que evidenciaram vários abcessos hepáticos. Realizada punção dirigida por TC com saída de líquido hematopurulento, sendo posteriormente isolado S.anginosus nas hemoculturas, fazendo-se switch da antibioterapia para amoxicilina/ácido clavulânico, que manteve durante 4 semanas, com progressiva melhoria do quadro. Cerca de 1 mês após a admissão, diagnóstico de infeção urinária nosocomial a E.coli ESBL e produtora de carbapenemases, tendo realizado 2 ciclos de antibioterapia dirigida (ambos associados à antibioterapia prévia). Por agravamento clínico com quadro mantido de icterícia e elevação dos marcadores de fase aguda e de colestase, efetuada CPRE com documentação de estenose extensa da via biliar principal com necessidade de substituição da prótese, tendo sido aspirado pús com isolamento de Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenemases. Apesar da antibioterapia dirigida, durante o restante internamente constatou-se deterioração progressiva do quadro clínico, com evolução para insuficiência hepática, verificando-se o óbito cerca de 2 meses e meio após a admissão.
Este caso clínico pretende alertar para uma causa mais rara de abcesso hepático, nomeadamente em doentes imunodeprimidos ou com possíveis portas de entrada no sistema gastrointestinal. Reforça-se ainda a importância de que bacteriémias a estes agentes requerem investigação e exclusão de outros focos subjacentes, entre eles os abcessos cerebrais, intrabdominais, nomeadamente hepáticos, ou torácicos.