Andreia Freitas, Pedro Oliveira, Sara Beça, Joana Mascarenhas, Sofia Pereira
Introdução: Anualmente, o vírus Influenza (A e B) gera epidemias de infeções respiratórias. A apresentação típica inclui, entre outros sintomas, febre, mialgias e tosse. A sialadenite, nomeadamente a parotidite, constitui uma forma de apresentação rara da infeção, ocorrendo maioritariamente nas crianças. Poucos são os casos descritos de sialadenite submandibular bilateral no adulto no contexto de infeção por Influenza A.
Caso clínico: Mulher de 78 anos, autónoma, antecedentes de síndrome metabólica medicada; sem vacina anual da gripe. Recorreu ao Serviço de Urgência por quadro de tumefação submandibular bilateral dolorosa à palpação e astenia com 3 dias de evolução. Sem outras queixas. Cônjuge com quadro compatível com síndrome gripal. Ao exame físico a doente apresentava-se hemodinamicamente estável, febril (T 38.1ºC), com roncos e sibilância dispersos à auscultação pulmonar. Aumento do diâmetro cervical visível à inspeção, com tumefação dura, móvel e dolorosa à palpação na região submandibular bilateralmente, sem sinais inflamatórios locais. Sem exsudados purulentos na orofaringe. Insuficiência respiratória (IR) tipo 1 objetivada na gasimetria arterial (pO2 55mmHg). Analiticamente com leucocitose (14.270/uL) com neutrofilia, PCR 9.05 mg/dL. Ecografia das partes moles e Tomografia Computorizada dos tecidos moles do pescoço com evidência de hipertrofia e heterogeneidade das glândulas salivares submandibulares, com adenopatias reativas. Exsudado faríngeo positivo para influenza A. A doente foi internada por Gripe A com IR tipo 1, com sialadenite submandibular bilateral aguda. Foi medicada com Oseltamivir 75mg 12/12h per os durante 5 dias, com corticoterapia endovenosa e com broncodilatadores inalados; reforço hídrico per os e massagem glandular salivar foram também adotados. Melhoria clínica e analítica significativas foram observadas com as medidas terapêuticas instituídas, com resolução da IR e diminuição progressiva da tumefação submandibular.
Discussão: Descreve-se um caso de sialadenite submandibular aguda bilateral numa doente com infeção por vírus influenza A. Outros agentes patogénicos podem ter coexistido com o influenza (ex. Vírus coxxackie, EBV) mas não foram descartados, pelo que a associação não pode ser completamente estabelecida. A causa da associação ainda é desconhecida: por um lado, admite-se que a desidratação secundária à infeção respiratória causada pelo vírus influenza predisponha a estase salivar e desenvolvimento subsequente de sialadenite; alternativamente, admite-se a infeção direta como mecanismo etiológico potencial já que existem relatos de isolamento de vírus influenza A em tecido glandular salivar em modelos animais após exposição respiratória. O reconhecimento precoce da infeção num paciente com sialadenite permite adotar atempadamente medidas de evicção da transmissão do vírus e tratamento adequado, para além de limitar o recurso a exames complementares de diagnóstico desnecessários.