Marta Soares Carreira, Iolanda Mendes, Joana Pimenta, Jorge Almeida
INTRODUÇÃO: As duplicações císticas são anomalias congénitas que surgem numa fase inicial do desenvolvimento embrionário. Esta patologia, quando ocorre no esófago, é sintomática, sendo habitualmente diagnosticada antes dos 2 anos de idade.
CASO CLÍNICO: Homem de 57 anos, fumador, hipertenso e com história de consumo excessivos de álcool (>130g/dia), com internamento recente por pneumonia da base direita, recorre ao serviço de urgência, 3 dias após alta hospitalar, por recrudescência da febre (38ºC). Apresentava-se normotenso, taquicárdico (FC=120bpm), e com sons diminuídos na base do pulmão direito. Analiticamente com subida de marcadores inflamatórios (leucócitos 30 x109/L, PCR 177mg/L). Iniciada antibioterapia empírica com piperaciclina/tazobactam posteriormente ajustada para vancomicina e anidulafungina após isolamento de Staphylococcus aureus meticilina-resistente (MRSA) e Candida albicans em 2 hemoculturas (HC). A pesquisa de HIV foi negativa e o estudo de imunidade normal. Realizou ecocardiograma que não mostrava vegetações. Foi realizada tomografia computorizada de tórax e abdómen que mostrou espessamento do terço inferior da parede do esófago. Realizada endoscopia digestiva alta que mostrou a presença de três orifícios fistulosos na parede do esófago para um “segundo lúmen” esofágico que estava preenchido por conteúdo mucopurulento e resíduos alimentares. Isolamento de MRSA e Candida albicans no pus, com Ziehl-Nielsen e PCR de Mycobacterium tuberculosis negativa. Biópsia gástrica sem evidência de granulomas. Endoscopia digestiva baixa sem alterações. Optou-se por tratamento médico, completando 21 dias de antibioterapia com vancomicina e anidulafungina em detrimento de uma abordagem cirúrgica. Repetida endoscopia digestiva ao fim de 2 semanas de tratamento que não mostrava sinais de infecção. O doente teve alta e manteve-se sem novas infecções em dois anos de seguimento.
DISCUSSÃO: As duplicações císticas esofágicas são um diagnóstico extremamente raro, ainda mais na idade adulta e com este tipo de complicações. Não existe uma abordagem protocolada, embora a maior parte dos casos descritos na literatura tenham tido necessidade de abordagem cirúrgica. O isolamento de agentes pouco habituais em hemoculturas em doente imunocompetentes deve fazer procurar exaustivamente o foco de infecção.