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COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA COMO COMPLICAÇÃO FATAL DE GOLPE DE CALOR: CASO CLÍNICO
Urgência / Cuidados Intermédios e Doente Crítico - E-Poster
Congresso ID: P856 - Resumo ID: 1185
Serviço de Medicina Interna - Hospital de São Francisco Xavier; Unidade de Cuidados Intensivos Cirúrgicos - Hospital de São Francisco Xavier
Sérgio Brito, Marco Fernandes, Nuno Ferreira, António Pais Martins, Luís Campos
INTRODUÇÃO: O golpe de calor define-se por temperatura corporal >40ºC, com disfunção sistémica e neurológica, por exposição a altas temperaturas ambientais ou exercício físico extenuante. Fisiologicamente os mecanismos de termorregulação permitem baixar a temperatura corporal porém, em situações extremas, tornam-se ineficazes levando a falência multiorgânica e morte.

CASO CLÍNICO: Homem, 56 anos, trabalhador da construção civil, saúdavel. Encontrado inconsciente na via pública após ter estado várias horas a trabalhar num telhado (temperatura externa= 37ºC). À entrada no serviço de urgência estava em coma (Glasgow Coma Scale 3), com pupilas isocóricas e não reativas, gag reflex abolido, hipotonia generalizada e reflexos cutâneo-plantares indiferentes; sinais de má perfusão; temperatura timpânica = 41.1ºC; hipotenso (80/40mmHg); taquicardia sinusal (168bpm); bradipneico com uso de músculos acessórios e saturação periférica de oxigénio de 99% sob máscara de alto débito e anúrico. A gasimetria arterial revelou acidémia metabólica, hipercaliémia e hiperlactacidémia; analiticamente com lesão renal aguda AKIN III, citólise hepática e rabdomiólise, sem aumento de parâmetros inflamatórios ou alteração da coagulação.Doseamento de álcool, benzodiazepinas, opiáceos, antidepressivos tricíclicos, barbitúricos e canabinóides negativo. Ecocardiograma com sinais de depleção de volume. TC-crânio (TC-C) sem alterações. Admitido golpe de calor com disfunção multiorgânica. Iniciou arrefecimento externo, fluidoterapia e instilação gástrica e vesical de soro frio. Foi entubado, ventilado e transferido para a Unidade de Cuidados Intensivos (UCI).
Na UCI evoluiu desfavoravelmente com choque cardiogénico, agravamento da função renal, dos marcadores de morte celular e da insuficiência hepática. Apresentou epistáxis abundante, hematemeses e hematoquézias, com queda de 4g/dL de hemoglobina e subida do tempo de protrombina (11.8 >> 18.1seg) e aPTT (25.8>>51.3seg). Feito o estudo da coagulação por Tromboelastometria rotacional (ROTEM) que revelou compromisso grave da função plaquetária e fibrinogénio, prolongamento acentuado da via intrínseca e via extrínseca, sem formação de coágulo e iniciou transfusão de eritrócitos, plaquetas e fibrinogénio, desmopressina e octaplex. Após suspender a sedo-analgesia apresentava midríase fixa e ausência de reflexo corneano. Repetiu TC-C que mostrou edema difuso com hemorragia do tronco cerebral, inundação ventricular, hemorragia subaracnoideia difusa e sinais de hidrocefalia ativa.
Dado o quadro de falência multiorgânica resistente à terapêutica foi decidida limitação terapêutica. Óbito registado às 48 horas após a admissão hospitalar.

DISCUSSÃO: O golpe de calor é uma situação potencialmente grave e que deve ser rapidamente abordada para impedir a progressão para disfunção multiorgânica irreversível. Assim, a população deve ser sensibilizada dos riscos da exposição solar prolongada nos dias de maior calor e as medidas a adotar.