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ASPERGILOSE INVASIVA COMO FORMA RARA DE APRESENTAÇÃO DE UMA NEOPLASIA DO PULMÃO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P501 - Resumo ID: 1187
ULS Castelo Branco - Hospital Amato Lusitano
Filipa Leitão, Joana Carvalho, João Freixo, Maria Eugénia André
Aspergilose é o termo usado para descrever todas as entidades causadas por uma das espécies de Aspergillus. Os principais fatores de risco são neutropenia profunda e uso de glicocorticóides. A frequência de doença e o ritmo de progressão aumentam com maiores graus de imunocomprometimento. As características clínicas mais comuns são ausência de sintomas, febre, tosse, desconforto torácico, hemoptises e dispneia. A disseminação hematogénica para o cérebro é uma complicação devastadora da aspergilose invasiva. Pode manifestar-se de forma aguda ou subaguda com alterações de humor e/ou de consciência, convulsões e sinais focais.
T.L., sexo masculino, 65 anos, autónomo, recorreu ao SU em Maio por tosse com expetoração amarelada e emagrecimento não quantificado desde há 1 mês. Três dias antes iniciou expetoração hemoptoica, dispneia e cansaço fácil. Negou outros sintomas acompanhantes. Fumador activo de 30 UMA, sem outros antecedentes relevantes. Ao exame objectivo vígil, orientado, mas emagrecido. Auscultação pulmonar murmúrio vesicular diminuído na base direita, com fervores no hemitórax direito. Analiticamente hemograma normal e bioquímica com PCR de 35. Realizado raio-x de tórax com múltiplas lesões cavitadas bilateralmente, de tamanho variável, que foram confirmadas por TC-Tórax. Já no Serviço de Medicina Interna o exame directo da expectoração foi negativo para B.A.A.R., serologias de HIV, hepatite B e C e IGRA também foram negativos. Feita broncofibroscopia com biopsia que foi negativa para neoplasia e lavado broncoalveolar positivo para Aspergillus spp com antigénio galactomanano positivo e negativo para Echinococcus granulosus. Iniciou terapêutica com voriconazol durante 2 semanas endovenosa. Por melhoria do estado geral, apirexia e recuperação de peso o doente teve alta para completar 6 semanas de terapêutica. No entanto, o doente 3 semanas após a alta teve uma convulsão tónico clónica generalizada que motivou novo internamento. Realizou TC-CE e RNM-CE que revelaram múltiplos abcessos cerebrais compatíveis com aspergilose cerebral. Foi repetida TC-Tórax que mantinha as lesões cavitadas. Repetiu broncofibroscopia cuja biopsia revelou adenocarcinoma pulmonar. Para estadiamento do tumor realizou PET que confirmou a neoplasia pulmonar com metastização ganglionar, adrenal e óssea e cavidades bilaterais da aspergilose pulmonar, com captação cerebral heterogénea. Foi encaminhado para a oncologia, mas acabou por falecer em Setembro sem iniciar o primeiro ciclo de tratamento.
Apresentamos este caso devido à forma rara e encapotada de apresentação de uma neoplasia do pulmão, uma vez que a aspergilose invasiva poderia por si só explicar a clínica do doente; à necessidade de múltiplos exames complementares, alguns dos quais necessitando de ser repetidos por forte suspeita clínica, para estabelecer o diagnóstico e pelo extenso lapso de tempo desde as primeiras manifestações até ao diagnóstico final o que poderá ter contribuído para o mau desfecho do caso.