Alexandra Pousinha, Carolina Cadório, Diana Falcão, Vânia Almeida, Cândida Barroso, João Barreira, José Barata
Introdução
A encefalite pelo Vírus Herpes Simples (VHS) é a principal causa de encefalite esporádica em adultos. Na sua biopatologia, o VHS causa uma encefalite necrotizante que pode ser hemorrágica, conferindo-lhe pior prognóstico face a outras encefalites virais.
Caso clínico
Os autores apresentam o caso de um homem, leucodérmico, de 55 anos, previamente autónomo, com antecedentes de 2 acidentes vasculares isquémicos cerebrais em 2017 com hemiparesia esquerda e disartria sequelares. Recorreu ao Serviço de Urgência por episódio de crise convulsiva inaugural. À admissão encontrava-se com flutuação do estado de consciência, desorientado, apirético, sem sinais neurológicos de novo e sem sinais meníngeos.
Dos exames complementares de diagnóstico destacam-se: laboratorialmente sem aumento de parâmetros inflamatórios e tomografia crânioencefálica (TC-CE) com mostrando lesão encefaloclástica corticossubcortical frontal lateral e perirrolândica à direita, em relação com sequelas de enfartes antigos. Considerou-se o diagnostico de epilepsia sintomática enfarte cerebral prévio e foi medicado com antiepiléptico.
Contudo, na enfermaria manteve flutuação do estado de consciência e e iniciou picos febris, e mioclonias focais. Repetiu TC-CE que evidenciou múltiplos focos hemorrágicos direitos em topografia perirrolândica, temporal e lenticular posterior aflorando a corona radiata adjacente. Por suspeita de encefalite herpética fez punção lombar que evidenciou aumento da proteinorráquia e pleocitose; pediu-se PCR para o VHS no líquor. Iniciou empiricamente aciclovir. Concomitantemente identificou-se serologia positiva para Vírus Imunodeficiência Humana tipo 1. Foi referenciado para Unidade de Cuidados Intensivos mas, apesar de todos os esforços envidados, o doente veio a falecer ao 7º dia de internamento. A posteriori confirmou-se PCR positiva no líquor para VHS 1.
Discussão
Os autores pretendem demonstrar a importância de se considerar o diagnóstico de encefalite em doentes que se apresentam com crise epiléptica inaugural e alteração do estado de consciência ou síndrome confusional prolongados. Neste caso, a história clinica e o primeiro exame de neuroimagem sugeriam o diagnostico de epilepsia sintomática à lesão vascular prévia do doente. No entanto, a ausência de melhoria clinica com o controlo das crises epilépticas e oaparecimento de febre levou à repetição do exame de neuroimagem, evidenciando-se a presença de lesão focal temporal com componente hemorrágico compatível com encefalite herpética. Por outro lado, o facto de o doente ser imunocomprometido, situação identificada durante o internamento, conferiu maior gravidade e mortalidade ao quadro clínico.