Dora Lameiras, Diogo Santos, Joana Alves Vaz, Manuela Zita Veiga, Isabel Madruga
Introdução: A prescrição de antimicrobianos é frequente no serviço de Medicina Interna. Verifica-se que, apesar da existência de programas de apoio à prescrição, existem ainda situações de uso desta terapêutica sem foco identificado e em ciclos de duração mais prolongada, comparativamente às recomendações.
Objetivo: Análise retrospectiva do perfil de utilização de antibioticoterapia e infeções mais prevalentes.
Material e Métodos: Análise retrospectiva de 202 doentes, internados no serviço de Medicina com utilização de antibioticoterapia, entre outubro e dezembro de 2018. Foi avaliado o tipo de antibiótico, duração da terapêutica e infeção subjacente.
Resultados: A média de idades dos doentes foi de 78,7 anos, sendo 54% mulheres (n=110). Destes 202 doentes, 70% (n=140) tiveram necessidade de antibioticoterapia em internamento, estando esta relacionada directamente com o motivo principal de internamento ou como intercorrência. Apenas em 67 destes doentes houve isolamento microbiológico a suportar a terapêutica prescrita, senso em 7 casos de microrganismos multirresistentes.
Como antibioterapia inicial, foi mais prescrita a associação amoxicilina-ácido clavulânico em 56 doentes, tendo em 18 deles sido realizada associação com claritromicina. Os restantes antibióticos mais prescritos foram piperacilina-tazobactam (n=26), cefuroxima (n=19), ceftriaxona (n=12), meropenem (n=9) e levofloxacina (n=6). Alguns doentes realizaram pelo menos três antibióticos (n=14) durante o internamento, sendo que em média o tempo para alteração de antibioticoterapia foi 9 dias; a demora média de internamento nestes doentes foi de 17,9 dias, contrariamente aos doentes que realizaram apenas um ciclo de antibioticoterapia, que tiveram uma demora média de 14,5 dias. Após a mudança de esquema de antibiótico o mais prescrito foi meropenem (n=14), seguido de piperacilina-tazobactam (n=9).
Relativamente às infeções mais prevalentes, as infecções urinárias afectaram 78 doentes, seguidas das infecções respiratórias, presentes em 65 doentes. De referir ainda que 18 doentes apresentaram mais do que um processo infecioso durante o internamento, sendo o mais frequente a cistite acompanhada de infeção respiratória (traqueobronquite ou pneumonia). As infeções hospitalares foram relevantes, estando presentes em 12,8% dos doentes, com mortalidade verificada em 5 doentes deste grupo (27%). O antibiótico mais prescrito neste grupo foi piperacilina-tazobactam (n=8), com duração da terapêutica em média de 8,6 dias.
Conclusões:
Nos doentes internados verifica-se a utilização frequente de antibióticos de largo espectro, pois estes doentes apresentam infecções associadas a alta morbimortalidade. Contudo, apesar das recomendações divulgadas, ainda é relevante a mortalidade verificada nas infeções hospitalares. Assim sendo, é necessária uma maior consciencialização das indicações na prescrição antibiótica, de modo a reduzir as resistências microbiológicas.