Ana Ponciano, Ana Margarida Cabral, Bruno Cabreiro, Catarina Faria, José Leite, Célio Fernandes
Introdução:
A prevalência de doentes admitidos em internamento com antecedentes de Demência é elevada e regista nos últimos anos um franco crescimento. Para além disso, este constitui um grupo em risco para Delirium. Em contraste, a avaliação da dor neste grupo de doentes nem sempre é fácil face as suas especificidades, sendo muitas vezes sub-diagnosticada e não tratada adequadamente. Constitui assim, um factor desencadeante importante e mal estudado.
Objectivo:
Avaliar a relação entre dor e delirium em doentes com demência, na admissão e ao longo do internamento.
Material e Métodos:
Estudo de coorte, observacional, prospectivo, incluindo doentes com idade ≥65anos com diagnóstico de demência. Foram avaliados presença de delirium com recurso ao Confusion Assessment Method (CAM), dor através da escala Pain Assessment in Advanced Dementia (PAINAD) e prescrição de analgesia.
Resultados:
Foram incluidos 250 doentes, maioritariamente do sexo masculino. Dor em repouso foi reportada em 45%, e em 10% associava-se ao esforço. Delirium ocorreu em cerca de 2/3 da população em estudo, a maioria do sexo feminino. Destes, cerca de 30% dos que não conseguiam auto-reportar dor, experienciaram dor no internamento. A presença de delirium no internamento era mais provável na população que referia dor em repouso (odds ratio 3.26, intervalo de confiança 95% (IC) 1.03-5.25, p=0.04)
Conclusões:
Dor e delirium co-existir nos doentes com demência admitidos nas enfermarias de Medicina. Os autores identificaram a existência de relação entre dor e delirium na população idosa admitida em internamento, sugerindo que a dor poderá contituir um factor de risco para delirium. Para uma melhoria na abordagem e tratamento destes casos,reforça-se a importância de avaliação frequente de dor e delirium.