23

24

25

26
 
LOMBALGIA, CALAFRIOS E FEBRE - NEM TUDO O QUE PARECE É
Doenças oncológicas - E-Poster
Congresso ID: P749 - Resumo ID: 1217
Hospital Central do Funchal
Ana Carlota Vida, Cláudia Lemos, André Mendonça Vieira, Pedro Vieira, Graça Dias, Maria da Luz Brazão
A leucemia mielóide aguda (LMA) é das leucemias mais comuns nos adultos, aumentando a sua incidência com a idade. Geralmente, a clínica é inespecífica e podem estar presentes sintomas relacionados com anemia ou trombocitopenia. O curso clínico é complexo e várias complicações podem surgir associadas, nomeadamente, hiperleucocitose e leucostase, síndrome de lise tumoral, acidose láctica, hipercalcémia, hipocaliémia, entre outros.
Descreve-se o caso de homem, 71 anos, não medicado, sem antecedentes patológicos relevantes, trazido ao Serviço de Urgência por febre, calafrios, prostração e períodos de confusão desde essa noite. Referência também a quadro de lombalgia, anorexia e náuseas desde há 8 dias, medicado com AAS e Paracetamol em SOS, com agravamento progressivo. Ao exame objetivo destacava-se TT 38.9ºC, GCS 14, auscultação pulmonar com murmúrio vesicular diminuído na base direita. GSA O2 15L/min: pH 7.48, pO2 64, pCO2 26, Sat O2 94%, HCO3 20, Lact7.5. Analiticamente, leucocitose 338700/µL, Neutrofilia 30 500/µL, Blastos 287900/µL Hb 8.7g/dL, trombocitopenia (58000/µL), Ureia 78.5 mg/dL, Creatinina 2.85mg/dL, LDH 5241U/L, PCR 242.8mg/L, CK 1058U/L. Radiografia de tórax com hipotransparência heterogénea de ambas as bases.
Realizado mielograma com imunofenotipagem para caracterização e fez-se o diagnóstico de LMA monocítica com fenótipo M5 de FAB. Simultaneamente, constatou-se lesão renal aguda KDIGO 4 anúrica, não responsiva a diuréticos, no contexto de choque séptico por pneumonia da comunidade e leucoestase pulmonar, tendo iniciado empiricamente Amoxicilina/Ácido Clavulânico e fluidoterapia. Admitiu-se síndrome de lise tumoral, analiticamente Ácido úrico 18.2mg/dl, Fósforo 7.42mg/dl, Cálcio 8.14mg/dl, tendo iniciado Alopurinol.
Realizou leucocitaferese terapêutica e, posteriormente, foi iniciada citoredução com Citarabina. GSA de reavaliação com acidémia metabólica mantida (pH 7.28, HCO3 8.6, Lact 17), pelo que iniciou hemodiálise. Da reavaliação analítica, leucocitose 277600/µL, blastos 249900/µL (90%), Hb 8.6g/dL, trombocitopenia (87000/µL).
Houve necessidade de progredir para terapêutica de substituição da função renal contínua, tendo mantido acidémia metabólica e hiperlactacidémia em agravamento, com necessidade crescente de suporte vasopressor e de ventilação mecânica invasiva. Ao D2 de internamento, o doente apresentou agravamento progressivo com evolução para falência multi-orgânica refractária às medidas instituídas.
Este caso demonstra-nos uma apresentação inicial de LMA com várias emergências oncológicas associadas, designadamente, a hiperleucocitose e a síndrome de lise tumoral, para além do quadro infeccioso subjacente, fatores estes associados a mau prognóstico. Conforme descrito na literatura, a presença de quadros súbitos constitui uma das formas mais comuns de apresentação desta entidade. Relata-se este caso para demonstrar a sua rápida evolução e destacar a dificuldade em gerir as diferentes complicações aqui referidas.