Dora Lameiras, Diogo Santos, Joana Alves Vaz, Manuela Zita Veiga, Isabel Madruga
Introdução: A prevalência da fibrilhação auricular (FA) aumenta exponencialmente a partir dos 65 anos. A incidência de FA pode atingir os 10 % em doentes pertencentes ao grupo dos muito idosos (> 80 anos). Segundo alguns autores, este valor pode ser subestimado, uma vez que esta patologia pode, muito frequentemente, ser assintomática.
OBJECTIVO: Estudo retrospectivo que procura caracterizar uma população de doentes internados num Serviço de Medicina Interna (SMI), em idade geriátrica e com diagnóstico FA.
MATERIAL e MÉTODOS: Análise retrospectiva de 59 doentes com diagnóstico de FA, internados num SMI entre Outubro e Dezembro de 2018. Foram colhidos dados demográficos, os doentes estratificados consoante a autonomia (autónomo, parcialmente dependente, totalmente dependente), terapêutica e calculados os riscos trombótico e hemorrágicos associados à FA.
RESULTADOS: Dos 203 doentes internados num período de 3 meses, a idade média da população estudada foi de 79 anos e a mediana de 82 anos. A média de dias de internamento foi de 13 dias. Desta amostra, 59 apresentaram o diagnóstico de FA, três das quais foram diagnosticadas de novo. Cerca de 54% dos pacientes com FA eram mulheres. No total dos doentes internados, 53 eram anticoagulados pelos seguintes diagnósticos FA (90%), Trombose venosa profunda/Tromboembolismo pulmonar (6%) e Flutter auricular (4%). O fármaco mais frequentemente prescrito foi o Apixabano (26%), seguido de Rivaroxabano (23%), Varfarina (19%), Dabigatrano (17%), Edoxabano (13%) e Enoxaparina (2%). Mantiveram anticoagulação à data de alta: 37% de doentes totalmente dependentes, 33 % de parcialmente dependentes e 30% eram doentes autónomos. Foi avaliado o risco vs benefício da anticoagulação através das escalas CHADsVASc2 e HASBLED e o valor médio foi de 5 e 2, respectivamente.
DISCUSSÃO: Na amostra apresentada 95% doentes apresentavam idade superior a 65 anos, 62 % dos quais com idade superior a 80 anos. A média avaliada do risco hemorrágico foi de 2 (risco moderado) e o risco trombótico foi de 4 (risco moderado) podendo concluir-se que baseando nessas ferramentas a decisão de anticoagular pode ser complexa. A população geriátrica está em risco do síndrome de fragilidade, uma condição que se caracteriza por um declínio progressivo, multi-orgânico, configurando vulnerabilidade e susceptibilidade a qualquer alteração ao estado de sáude. A ponderação de anticoagulação é uma decisão desafiante, devendo ser avaliados os riscos inerentes a esta prática clínica – Risco Trombótico VS Hemorrágico, com ferramentas amplamente utilizados como, o CHADsVASc2 e HASBLED, não descurando, a sensatez clínica que é imprescindível para esta tomada de decisão. Esta questão tornar-se-á mais frequente, uma vez que a esperança de média de vida tem vindo a aumentar progressivamente. Embora existem linhas de orientação internacionais disponíveis relativamente a abordagem desta entidade, cada doente apresenta a sua individualidade.