Miguel Sousa Leite, Salvador Morais Sarmento, Daniela Marto, Ana Brito, Hugo Inácio, Sofia Mateus, Andreia Amaral, Dina Pita, Marta Moitinho, Catarina Salvado
INTRODUÇÃO
As neoplasias constituem a segunda causa de morte no nosso país. Fazem hoje parte da vivência natural das enfermarias de medicina, seja por descompensações inerentes à neoplasia e/ou sua terapêutica, seja por complicações ou comorbilidades. Interessa, portanto, conhecer a amostra em questão para conhecer as particularidades e susceptibilidades desta população.
Apresentamos a casuística das neoplasias de um serviço de medicina com 30 camas ao longo do ano de 2017.
OBJECTIVOS
Fazer o levantamento de todos os casos de neoplasias malignas de órgão sólido dos doentes internados num serviço de Medicina Interna ao longo de um ano, analisando ainda os dados do internamento versus a restante população.
MÉTODOS
À amostra foram aplicados os seguintes critérios de inclusão e exclusão para definir a população alvo:
• Inclusão: neoplasias de órgão sólido, activas, malignas, com diagnóstico prévio ou no internamento em questão (considerando também reinternamentos no mesmo ano para objectividade em termos estatísticos).
• Exclusão: neoplasias hematológicas, neoplasias benignas, neoplasias que se entende estarem em remissão completa ou massas suspeitas em estudo ainda sem diagnóstico objectivo.
Tendo em conta os critérios definidos foram recolhidos os seguintes dados para estudo e tratamento: tipo de tumor, estadiamento da doença, metastização e abordagem terapêutica, diagnósticos principais e secundários do internamento, mortalidade e referenciação a cuidados paliativos
RESULTADOS
Foram analisados um total de 786 internamentos, dos quais 100 cumpriam os critérios de inclusão, correspondendo a 13% do total do serviço. Da amostra, 89% eram do sexo feminino. A média de idades era de 77 anos. O tempo de internamento foi superior ao da população geral (em média de 11.3 dias versus 10.8 dias). A grande maioria era oriundo da urgência geral do hospital. As neoplasias mais frequentes foram as de origem gastrointestinal (36%) e mama (16%). 58% estavam já metastizadas. As causas mais frequentes de internamento foram as complicações infeciosas (35%) e a progressão da doença (32%). A maioria encontrava-se já em fase paliativa e em 52% foi activada a equipa de cuidados paliativos intrahospitalar. 13 doentes tiveram como destino unidades de cuidados paliativos e 17 faleceram no internamento, sendo a mortalidade da amostra quase o dobro da geral do serviço (17% versus 9%).
CONCLUSÕES
É importante considerar a relevância da patologia neoplásica nas enfermarias de medicina, particularmente em hospitais onde a oncologia não tem internamento. Seria importante considerar a criação de equipas multidisciplinares nos hospitais do SNS de modo a melhor encarar e gerir de forma mais célere e eficaz a patologia complexa destes doentes. Seria também de extrema importância o reforçar das equipas de cuidados paliativos de modo a dar uma resposta digna aos problemas dos doentes em final de vida.