Cláudia Lemos, Sofia Dinis Ferreira, Ana Carlota Vida, Carolina Morna, José Alves, Ema Freitas, Maria da Luz Brazão
Introdução: O megacólon tóxico constitui uma complicação grave da colite por Clostridium difficile. A sua incidência é custosa de determinar e depende da causa subjacente, ocorrendo em 0,4 a 3% dos doentes. A infeção por Clostridium difficile é a principal causa de diarreia hospitalar, com aumento recente da sua incidência e morbilidade.
Caso clínico: Doente do sexo feminino, de 87 anos, caucasiana, parcialmente dependente nas suas atividades de vida diária, com antecedentes de hipertensão, insuficiência cardíaca, dislipidémia e osteoartrose, polimedicada para as suas co-morbilidades.
Encontrava-se em alta clínica do internamento prévio, por descompensação de insuficiência cardíaca devido a infeção respiratória, que decorreu sem intercorrências. Porém teve necessidade de reinternamento em contexto de abdómen agudo, com aumento do volume abdominal e vómitos. Ao exame objetivo encontrava-se febril, taquicárdica, e com distensão abdominal. O restante exame objetivo não tinha alterações de relevo. Analliticamente, com leucocitose e subida dos parâmetros inflamatórios.
A TC Abdominal de urgência mostrava importante distensão gasosa do cólon esquerdo, mais exuberante na sigmóide com um diâmetro de 8cm, espessamento parietal circunferencial difuso, do recto e da sigmóide, de baixa densidade, com espessura máxima de 13 mm, não eram visíveis lesões orgânicas obstrutivas, os aspetos eram sugestivos de proctocolite de etiologia não específica (infeciosa) com provável colite tóxica (megacólon tóxico).
A investigação diagnóstica revelou ser secundário a infeção por Clostridium difficile. Instituiu-se terapêutica antibiótica com vancomicina per os, que cumpriu durante catorze dias, sem intercorrências. Por franca melhoria clínica e analítica teve alta.
Discussão: O megacólon tóxico é uma complicação pouco frequente, mas potencialmente fatal da colite, caraterizada pela dilatação cólica, não obstrutiva, associada a toxicidade sistémica. É habitualmente reconhecido como uma complicação da doença inflamatória intestinal, especialmente da colite ulcerosa, embora possa associar-se à colite infecciosa de qualquer etiologia, bem como à colite isquémica, volvo, diverticulite e obstrução por neoplasia cólica. Fisiopatologicamente, relaciona-se com alterações inflamatórias que atingem a muscularis propria da parede do cólon, com lesão neuronal subsequente, que resulta em alteração da motilidade e dilatação intestinal. Os factores de risco para o seu desenvolvimento incluem, imunosupressão, neoplasia concomitante, doença pulmonar obstrutiva crónica grave, transplante de órgão, procedimentos cardiotorácicos, diabetes mellitus e insuficiência renal.
O caso pretende alertar para a apresentação atípica de uma entidade, virtualmente, letal com taxa de mortalidade significativa que varia entre 38% a 80%. O seu reconhecimento precoce e tratamento agressivo podem melhorar o prognóstico.