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IMPACTO DO BOARDING DO SERVIÇO DE URGÊNCIA NUM HOSPITAL CENTRAL E UNIVERSITÁRIO.
Organização e gestão / novas formas de cuidados - Comunicação
Congresso ID: CO027 - Resumo ID: 1244
Centro Hospitalar Universitário do Porto
Rita Rego, Filipa Abelha Pereira, Isabel Fonseca Silva, João Gonçalves, Nuno Miguel Pereira, João Neves, João Araújo Correia
A maioria dos doentes internados nos serviços de medicina interna são admitidos pelo serviço de urgência (SU). O fenómeno de boarding define-se como um aumento do período de tempo que medeia desde da decisão de admissão hospitalar até que o doente ingressa na enfermaria. Este fenómeno resulta na acumulação de doentes no SU e associa-se a outcomes desfavoráveis. Estão descritas várias medidas que promovem a redução do boarding, sendo a sua implementação heterogénea.
Este estudo pretende avaliar o impacto do boarding nos outcomes de mortalidade e duração de internamento hospitalar nos doentes internados num serviço de medicina de um hospital central e universitário.

Estudo observacional e prospectivo de uma amostra não-aleatória de doentes admitidos numa enfermaria de medicina entre os períodos de Setembro de 2013 e Janeiro de 2019, de forma não consecutiva, geridos pela mesma equipa médica. Foram selecionados 850 doentes dos quais se excluíram 138 doentes (internamentos eletivos ou prolongados por referenciação para rede nacional de cuidados continuados e/ou admissão prévia noutros serviços hospitalares). Os doentes foram separados em dois grupos com base no tempo de permanência no SU, sendo que o cut-off utilizado foram as 24 horas de forma a adequar-se à realidade do nosso contexto hospitalar. Comparamos os dois grupos tendo em conta os outcomes estabelecidos. O impacto nos outcomes decorrente da sazonalidade de afluência ao SU também foi avaliado.

A idade média da amostra foi de 74,56 anos, 56.2% eram do género masculino. A duração média de permanência no SU foi de 31,2 horas. Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os 2 grupos quanto à idade e género. 248 dos doentes foram internados na enfermaria dentro das primeiras 24 horas (grupo 1) e 464 doentes após esse período (grupo 2). A demora média de internamento foi de 10,27 dias no grupo 1 vs 11,94 dias no grupo 2 (p=0,000). A mortalidade no grupo 1 foi de 11,3% vs 16,8% no grupo 2 (p=0,049). Nos meses de Outono/Inverno a duração de permanência no SU é significativamente maior 36,6 horas vs 24,5 horas nos restantes meses (p=0.000) e a duração de internamento é menor 10,57 dias vs 12,42 dias no meses de Primavera/Verão (p=0,035). Na mortalidade a diferença entre estes dois períodos do ano não foi significativa (p=0,497).

O fenómeno de boarding é uma realidade do nosso quotidiano com impacto na mortalidade e demora média de internamento dos nossos doentes. A mortalidade parece ser diretamente relacionada com o boarding e independente da sazonalidade de afluência ao SU. Apesar de agravado nos meses de Outono/Inverno, o boarding é um fenómeno que ocorre ao longo de todo o ano.