Alexandra Esteves, Ana Carvoeiro, Pedro Pinto, Paula Felgueiras, Diana Guerra, Carmélia Rodrigues
INTRODUÇÃO: A enteropatia perdedora de proteínas (EPP) é um entidade rara, de etiologia e mecanismos patológicos variados, sendo definida perda excessiva de proteínas pelo tracto gastrointestinal resultando em hipoproteinemia, edema e anasarca nos casos mais severos.
CASO CLÍNICO: Homem, 66 anos. Doente com seguimento em consulta há vários anos por doença celíaca, habitualmente com sintomas controlados dieta. Cerca de 6 meses antes da admissão com recrudescimento da diarreia refratária à terapêutica instituída, com perda ponderal de 15Kg associada. Recorre ao serviço de urgência (SU) por edema dos membros inferiores, aumento do perímetro abdominal e noção de diminuição do débito urinário com cerca de 2 semanas de evolução. Ao exame físico, aspecto emagrecido, pálido, com edemas simétricos e exuberantes dos membros inferiores e da parede abdominal, com auscultação pulmonar sugestiva de estase. O estudo complementar confirmou a presença de anemia macrocítica (Hb 9.8 g/dL; VGM: 99fL), défice de ferro, vitamina B12 e ácido fólico, hipoproteinemia e hipoalbuminemia (albumina 2.3 g/dL) com hipocalémia, hipocalcémia e hipomagnesémia associadas. Excluídas alterações no hemograma de outras linhas celulares, da função renal ou hepática. Admitido no internamento tendo estudo anatomopatológico das biópsias da mucosa ileal e duodenal obtidas por endoscopia alta e baixa compatíveis com o diagnóstico prévio de doença celíaca e sem evidência de histiócitos espumosos sugestivos de Doença de Whipple ou de granulomas. Excluída intercorrência infeciosa pela ausência de contexto epidemiológico bem como estudo bacteriológico, parasitológico, micobacteriológico, reação de Widal e pesquisa de Clostridum negativos. O estudo de etiologia neoplásica foi de particular relevo quer pela história de doença celíaca, quer pela descrição no TC abdominal de uma zona de espessamento parietal irregular a nível do cólon ascendente, com adenopatias mediastínicas e abdominais e lesões de esclerose a nível lombar, tendo sido necessária a realização de PET que excluiu a presença de lesões com hipermetabolismo. Durante o internamento, melhoria progressiva sob dieta obstipante sem glúten e suplementação dos défices descritos previamente. Alta com posterior seguimento em consulta, com resolução da diarreia, correção dos distúrbios hidroelectrolíticos e melhoria da anemia. A data com recuperação ponderal de cerca de 10Kg.
DISCUSSÃO: Os autores consideram este caso clínico de particular interesse. Apesar da EPP ser uma entidade clínica reconhecida com critérios de diagnóstico próprios, esta deve ser considerada como uma manifestação severa de uma doença de base. Deve ser considerada no diagnóstico diferencial de edema e hipoproteiniemia, após terem sido excluídas as etiologias mais comuns.