Arsénio Barbosa, Miguel Relvas, António Vieira-Lopes, Jorge Almeida
Introdução: As neoplasias neuroendócrinas de primário oculto são relativamente incomuns, correspondendo a cerca de 10% de todos os tumores neuroendócrinos. A sua classificação histológica (bem diferenciados ou mal diferenciados/alto grau) tem implicações terapêuticas.
Caso clínico: Apresenta-se o caso clínico de um homem de 69 anos, com história relevante de cardiopatia isquémica revascularizada percutaneamente, que recorreu ao serviço de urgência por quadro de cansaço, fatigabilidade fácil e anorexia, associada a dor epigástrica com irradiação dorsal, com cerca de duas semanas de evolução. À admissão, apresentava-se anictérico, hemodinamicamente estável, com subida das transamínases para valores duas vezes superior ao limite superior do normal e ecografia abdominal com fígado com múltiplas lesões sugestivas de lesões secundárias, tendo ficado interno no Serviço de Medicina Interna para estudo.
No internamento, para identificação de tumor primário foi pedido TC cervico-toraco-abdomino-pelvico que mostrou, para além de metastização hepática, metastização ganglionar, suprarrenal e óssea (úmero direito). Foi realizado estudo endoscópico alto e baixo que não revelou massas ou outras alterações.
Prosseguiu-se o estudo com a realização de biópsia de uma lesão hepática com 2 cm com a colaboração da Radiologia de Intervenção. O exame anatomo-patológico não permitiu identificar o tumor primário mas classificou o tumor como de alto grau. O caso foi apresentado em reunião de Grupo Oncológico, tendo-se decidido iniciar quimioterapia com intenção paliativa com octreotídeo. O doente faleceu 3 semanas após o diagnóstico pela progressão da doença.
Discussão: Este caso pretende demonstrar a invulgaridade do diagnóstico de um tumor neuroendócrino de primário oculto, com a investigação etiológica a que obriga, a sua classificação histológica e a necessidade de início de terapêutica adequada.