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AMILOIDOSE MULTISSISTÉMICA: SERÁ A SILICOSE PULMONAR UM TRIGGER?
Doenças endócrinas, metabólicas e nutricionais - Caso Clínico
Congresso ID: CC042 - Resumo ID: 1261
ULSM - Hospital Pedro Hispano
Filipa Guimarães, Miguel Borges Silva, João Pinto, Ana Branco, António Furtado, Fátima Magalhães, J. Vasco Barreto, Raquel Calisto, Nídia Pereira
Amiloidose,uma doença sistémica, resulta da deposição de fibrilhas de conformação alterada, sendo a AL e AA as mais comuns. A AL resulta da deposição de fragmentos das imunoglobulinas (contexto discrasia plasmocitária). A AA resulta da deposição de fragmentos da proteína sérica amilóide A (contexto doenças inflamatórias).
Homem, 60 anos, com silicose pulmonar (pseudo-tumoral). Em 2010 inicia quadro de febre recorrente e posteriormente DRC 4 A2 com proteinúria intermitente e sub-nefrótica. Em 2017, admitido por sintomas constitucionais, diarreia, febre, lesão renal aguda (pCr 4,5mg/dL) e hematúria. Fez cistoscopia e colonoscopia, cuja histologia revelou presença de substância amilóide. Evoluiu com perda de autonomia, necessidade de terapêutica de substituição renal, e hipotensão. Realizou biópsias adicionais (pele, tiróide, glândulas salivares, estômago e duodeno), todas positivas para substância amilóide.
Iniciada marcha diagnostica: sem picos monoclonais, não foi possível caracterização com imunoeletroforese urinária por anúria. Realça-se positividade do FR, com restante estudo AI negativo. Foram excluídas febre mediterrânica familiar (gene MEFV), síndrome TRAPS (gene TNFRSF1A), doença de Fabry (alfa-galactosidade A), tuberculose e linfoma. Foi difícil caracterizar o subtipo de amiloidose: se pelo método do permanganato de potássio, a biópsia da bexiga perdeu afinidade para o vermelho do Congo e sugeria amiloidose AA, corroborada pela positividade do FR e síndrome febril intermitente; por outro lado, o estudo imunohistoquímico revelou positividade para proteína amilóide A e restrição para cadeias leves lambda, sugestivo de amiloidose AL. Os testes foram repetidos em diferentes substratos e laboratórios nacionais, mantendo os mesmos resultados.
Eram múltiplas as manifestações enquadráveis na amiloidose sistémica: hipotensão; diarreia; hematúria; insuficiência renal; polineuropatia sensitivo motora. Se por um lado enquadrar-se-ia no subtipo AL, o contexto febril intermitente, positividade para FR e o teste do permanganato de potássio levantavam a hipótese do subtipo AA. Instituído trial de corticoterapia, sem resposta.
Infelizmente o doente acabou por falecer antes do esclarecimento do quadro. Perante a implausibilidade da sobreposição de amiloidose AL com AA, foi realizada autópsia e o tipo de amilóide foi caracterizado por microscopia imunoeletrónica (Itália, Pavia), que revelou imunoexpressão intensa das fibrilas para anticorpo anti-SAA, sendo portanto uma amiloidose AA.
Excluída a amilose do subtipo AL, e excluídas todas as doenças inflamatórias conhecidas como estando associadas ao subtipo AA, levantamos a hipótese de associação da silicose pulmonar como trigger inflamatório para a amiloidose AA. São escassos os casos descritos na literatura que expressam esta gravidade e exuberância (histologia de todas as peças em autópsia). Mais ainda destacamos a inexistência de casos descritos que levantem a hipótese da sua associação com silicose.